Trump não se compromete com transição pacífica se perder as eleições

por RTP
Tom Brenner - Reuters

A pouco mais de um mês das eleições presidenciais dos Estados Unidos, Donald Trump recusou-se a garantir o contributo para uma transição pacífica de poder, caso seja derrotado. Criticando, uma vez mais, a fiabilidade do sistema de voto por correspondência, o Presidente norte-americano afirmou que os resultados podiam acabar por ser disputados no Supremo Tribunal dos EUA.

Faltam seis semanas e as sondagens dão vantagem ao candidato democrata Joe Biden, mas Donald Trump tenta descartar a possibilidade de sair derrotado nas eleições. O presidente dos EUA recusou-se, esta quinta-feira, a comprometer-se publicamente a aceitar os resultados das presidenciais de 3 de novembro, caso seja o opositor a vencer, e em transferir pacificamente o poder.

"Bem, teremos de ver o que acontece. Vocês sabem isso. Temos vindo a reclamar muito por causa da votação. E as votações são um desastre", afirmou Trump numa conferência de imprensa, referindo-se ao voto por correspondência - que este ano deve ser massivo devido à pandemia - que Presidente tem condenado repetidamente como suscetível a fraudes.

Para além de não se comprometer em aceitar pacificamente uma derrota, Trump ainda adiantou que os resultados das eleições podiam ser decididos no Supremo Tribunal.
João Ricardo de Vasconcelos, correspondente da RTP em Washington

"Livrem-se das votações [por correio] e terão uma transição muito, muito pacífica – não haverá uma transição, francamente, haverá uma continuação", assumindo que acredita que vencerá as eleições. "Essas votações estão fora de controlo e os democratas sabem disso melhor do que ninguém".

"Acho que essa eleição vai acabar no Supremo Tribunal Federal e acho muito importante termos nove juízes", disse o Presidente norte-americano, acusando os democratas de usarem este novo meio de votação como "um golpe que será levado ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos".

Para Donald Trump, seria necessário destituir a juíza Ruth Bader Ginsburg, que faleceu na sexta-feira passada, para garantir vantagem na decisão do resultado eleitoral. Este sábado, Trump terá de nomear um nome para o lugar de Ginsburg.

O facto é que, devido à crise sanitária que os Estados Unidos atravessam, a maioira dos norte-americanos tem preferido recorrer à votação à distância, o que não agrada o candidato republicano. Trump já tinha, anteriormente, dito que as eleições estavam "minadas" e que os resultados poderiam ser contestados em várias instâncias, até chegar ao Supremo Tribunal.

Mas a recusa em comprometer-se com uma transição pacífica de poder não é de agora. Já em 2016, Trump recusou-se a comprometer-se a aceitar os resultados das eleições contra a candidata democrata Hillary Clinton - o que esta caracterizou como um ataque à democracia.
Reação democrata

As sondagens apontam, até agora, para vantagem de Joe Biden, frente de Donald Trump, apesar de ser uma competição renhida em alguns Estados.

Reagindo às declarações de Trump, recusando-se a aceitar uma derrota, o candidato democrata disse que era "uma piada" e as afirmações do Presidente "irracionais".

"Em que país vivemos? É uma piada. Quero dizer, em que país estamos? Ele fala as coisas mais irracionais. Eu não sei o que dizer", declarou Joe Biden aos jornalistas.

Numa reação a estes comentários, a equipa de campanha de Biden afirmou ainda que "o povo norte-americano vai decidir estas eleições" e que "o Governo dos Estados Unidos é perfeitamente capaz de conduzir transgressores para fora da Casa Branca".

Os especialistas consideram que, havendo votações por correspondênca, é provável que o vencedor não seja conhecido logo na noite de 3 de Novembro, mas quando todos os votos enviados por correio tiverem sido contados, dias depois.
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