Turquia. Ameaça de expulsão de diplomatas cimenta regime autoritário de Erdogan

por RTP
Reuters

Nos últimos dias, Tayyip Erdogan ordenou a expulsão de dez diplomatas de dez democracias ocidentais depois de críticas lançadas ao governo devido à prisão do filantropo Osman Kavala. Esta é mais uma ação que cimenta o estatuto do regime turco como autoritário, afastando-se do ocidente, apesar de fazer parte da NATO.

Kavala é só mais um dos nomes que estão detidos na Turquia, que nos últimos anos tem tornado alvo de prisões grupos de ativistas liberais, dos direitos LGBT, estudantes universitários, curdos, ativistas dos direitos das mulheres, membros da oposição e todos aqueles que se opõem ao regime de Erdogan.

A Turquia é o país que mais prende jornalistas no mundo. Erdogan está em confronto com os meios de comunicação e tem invadido países vizinhos, declarando estar a lutar contra o terrorismo na região. Existem também acusações de “limpezas étnicas” de curdos, yazidis e outras minorias.

Embaixadores na Turquia de vários países do ocidente expressaram-se contra a prisão de Osman Kavala, denunciando uma grande injustiça. Como retaliação, Erdogan ameaça expulsar embaixadores dos Estados Unidos, Alemanha, França, Países Baixos, Canadá, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega e Nova Zelândia.

O chefe do executivo turco afirmou que os embaixadores “não podem atrever-se a vir a terras turcas e dar ordens. Dei as instruções necessárias ao meu ministro dos Negócios Estrangeiros sobre o que deve ser feito: estes dez embaixadores devem ser declarados ‘persona non grata’ de uma só vez”.

Nos últimos anos, a relação de Ancara com o Ocidente tem ficado mais hostil, fazendo ameaças a alguns vizinhos. A liderança turca apoia a Irmandade Muçulmana e está a encorajar a sociedade turca a encarar o islamismo como um modo de vida e a ver causas islâmicas como suas. A Turquia tem recebido por várias vezes o Hamas e também já teve contacto com os talibãs.

A Turquia também tem cimentado relações internacionais com a Rússia, China e Irão. Procura a compra e venda de armas com russos e pretende aliar-se a Estados considerados autoritários, casos da Malásia e Paquistão.

Nos últimos tempos, o regime turco anunciou que deteve vários membros da Mossad, serviços secretos de Israel, aumentando as tensões entre os dois países. Agora a expulsão dos diplomatas tem como objetivo silenciar a oposição da comunidade internacional, em especial no Ocidente.

O discurso anti-Europa também está a crescer, com os países europeus e os Estados Unidos a serem vistos, cada vez mais, como inimigos da nação turca, enquanto China, Rússia ou Qatar são considerados amigos e aliados.

Muitos argumentam que a expulsão de diplomatas é uma jogada para enfraquecer a moeda no país, aumentar a pobreza e dependência dos turcos em relação ao governo, tentando mudar a opinião da classe média mais ligada à Europa - medidas para cimentar o seu poder na Turquia e continuar no executivo.

Apesar de fazer parte da NATO, Ancara tem-se tornado num dos países mais problemáticos no seio da organização, mostrando-se cada vez mais anti-ocidental, cultivando uma retórica que aumenta com o tempo e se está a tornar agressiva. Nem Rússia, China ou Irão mostram estes níveis de retórica.
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