Turquia. Ex-deputada curda condenada a 22 anos de prisão por terrorismo

por Inês Moreira Santos - RTP
Sertac Kayar - Reuters

Um tribunal turco condenou, esta segunda-feira, Leyla Guven a 22 anos e três meses de prisão por pertencer ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). A ex-deputada de origem curda do esquerdista Partido Democrático Popular (HDP) foi condenada por três acusações de terrorismo, depois de perder imunidade parlamentar em junho deste ano.

Leyla Guven foi deputada do partido da oposição na Turquia, o Partido Democrático Popular (HDP) e perdeu a imunidade parlamentar em junho. Esta segunda-feira, foi condenada a 14 anos e três meses por pertencer a um "grupo terrorista" e a mais oito por duas acusações de disseminação de "propaganda terrorista" para grupos armados curdos ilegais.

Guven não esteve presente na audiência e o seu paradeiro não foi imediatamente esclarecido. Contudo, o tribunal de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, ordenou a prisão da ex-deputada, que foi libertada em junho passado depois de cumprir 18 meses de uma sentença anterior de seis anos também por pertencer ao PKK - considerado um grupo terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia.

Destituída do cargo de deputada em junho após uma votação parlamentar, Guven, de 56 anos, foi declarada culpada por "integrar um grupo terrorista", especificamente por pertencer ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e por fazer "propaganda" a favor desta organização.

A sentença foi confirmada pelo HDP através da rede social Twitter, onde se lê que "este veredicto hostil não é apenas contra Guven e o Congresso por uma Sociedade Democrática (DTK) - presidido por Guven - mas contra todos os curdos e a oposição na Turquia".

"Recusamo-nos a reconhecer este veredicto", escreveu também o partido.




A ex-deputada curda é co-presidente do "Congresso da Sociedade Democrática" (DTK), uma organização que as autoridades turcas acusam de estar vinculada ao PKK. Ainda era deputada pelo Partido Democrático Popular (HDP) quando foi presa em janeiro de 2018 e condenada por ter criticado a ofensiva militar turca contra o enclave de Afrin, no norte da Síria, onde vive uma maioria de curdos.

Em protesto contra as condições de prisão do líder curdo Abdullah Ocalan, um dos fundadores do grupo PKK, Guven entrou em greve de fome em novembro de 2018, assim como milhares de presos e, em janeiro de 2019, passou a liberdade condicional.

O Governo da Turquia prendeu dezenas de deputados e outras personalidades de relevo do HDP no ano passado por causa das ligações suspeitas do partido com o PKK, ligações que o partido nega.

Atualmente, doze deputados do HDP (partido pró-curdo), a terceira formação do parlamento turco, estão presos desde 2016, indiciados e acusados de ligações ao PKK. Os círculos pró-curdos, em particular o HDP - partido da oposição do governo turco, frequentemente acusado de ser próximo ao grupo terrorista - , têm sido objeto de repressão implacável já há vários anos na Turquia.

Esta repressão tem alarmado vários grupos de direitos humanos e acentuou ainda mais as relações difíceis entre a Turquia e a União Europeia.
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