Turquia: Fricções com o Ocidente podem resultar em nova vaga de refugiados na Europa

por Rui Sá, Daniel Catalão

Na visita a Whasington Erdogan, levou na lista de pedidos a extradição de Fatullah Gulen, o clérigo que acusa de ter instigado a tentativa de golpe de Estado de julho passado na Turquia.
O golpe originou uma purga de mais de 50 mil pessoas ligadas à oposição entre militares, professores, juízes e jornalistas, e serviu para justificar a necessidade de reforço dos poderes presidenciais num processo que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) considerou não democrático por ter sido posta em causa a liberdade de imprensa. A tensão entre a Turquia e o Ocidente, em especial a União Europeia está em crescendo.
A vice-presidente da assembleia parlamentar da OSCE diz-se preocupada com os mais de três milhões de refugiados que o país alberga e que ameaça deixar seguir para a Europa. Isabel Santos, que acaba de voltar de uma missão naquele país recorda que a Turquia (76 milhões de habitantes) "tem funcionado como país tampão e a pressão desta realidade é tremenda para o país". A responsável da OSCE faz uma comparação. "Na União Europeia (500 milhões de habitantes) fala-se da maior crise humanitária desde a segunda guerra mundial e o continente recebeu apenas um milhão de pessoas que fogem da guerra e da fome".

Mais de uma dezena de jornalistas do principal órgão de comunicação da oposição turca foram esta terça-feira condenados por propagandear mensagens terroristas. O seu diretor enfrenta uma pena de 43 anos de prisão.

Fetullah Gulen é o homem acusado de estar por trás da tentativa de golpe de estado de15 de julho de 2016 que fez 265 mortos e mais de mil e quatrocentos feridos.

O Clérigo vive nos Estados Unidos. Obama recusou a extradição por falta de provas de envolvimento no golpe. O assunto volta agora a estar em cima da mesa nos encontros entre Erdogan e Trump.

"As relações entre a Turquia e os Estados Unidos foram erguidas sobre valores comuns, como a democracia, e interesses também comuns.
Manter essa excelente relação mais forte do que nunca será muito importante, não apenas para esses interesses, como para manter a paz e a estabilidade mundiais".

Erdogan, que viu os seus poderes reforçados após o referendo mês passado vai poder governar o país de forma quase absoluta. Nomeia o executivo e passa a poder dissolver a assembleia gerindo então o país através de decretos presidenciais.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa que a convite do governo turco monitorizou o ato, considerou que não foram cumpridas as regras democráticas, nomeadamente por falta de liberdade de imprensa.

No rescaldo da tentativa de golpe de estado do verão passado pelo menos 50 mil pessoas foram detidas. Militares, professores universitários, jornalistas e juízes encabeçam as listas.

Um ano após o golpe as vagas de detenções não acabaram. Já depois do referendo aos poderes de Erdogan nova purga nos ministérios da educação e energia com praticamente uma centena de novos detidos.
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