Um quarto dos lucros da banca europeia é gerado em paraísos fiscais

por Rui Sá, João Fernando Ramos

Mais de um quarto dos lucros dos vinte maiores bancos europeus são gerados em paraísos fiscais. Um estudo agora divulgado pela Oxfam revela que, globalmente, se perdem todos os anos quase cem mil milhões de euros em impostos por via da expatriação de resultados das grandes empresas.

A Organização Não Governamental inglesa Oxfam olhou as declarações obrigatórias da atividade da banca europeia em paraísos fiscais. Fez zoom aos 20 maiores bancos europeus, onde não está nenhum português e encontrou números expressivos.

12% do volume de negócios deste gigantes passa por paraísos fiscais e gera 26% dos lucros totais dos bancos, qualquer coisa como 25 mil milhões de euros.

A margem de rentabilidade nestas zonas é mastodôntica, em média 42%. Fora dos paraísos fiscais esse número menos de metade (19%).

Olhando o top 3 dos paraísos onde se obtém o maior lucro as Ilhas Caimão batem todos os outros: 167% Irlanda: (76%) e o Luxamburgo (61%) surgem logo depois.

No Jornal 2 o fiscalista Pedro Marinho Falcão fala em operações que muito dificilmente são controladas e em dinheiro que ninguém sabe onde e depois aplicado.

A Oxfam, cujo objeto é a luta global contra a pobreza, estima que todos os anos os países em vias de desenvolvimento percam cerca de 100 mil milhões de euros em impostos por via de esquemas de expatriação de lucros das grandes empresas para paraísos fiscais.

No caso dos vinte maiores bancos europeus, que por força de legislação comunitária passaram em 2015 a ser obrigados a declarar as operações desta natureza, ficaram-se a conhecer os mais produtivos seres humanos do planeta.

Envolvidos nas operações em paraísos fiscais estão apenas 7% dos funcionários destas instituições. São eles os trabalhadores mais produtivos do mundo.

Um empregado numa agência normal gera em média 29 mil euros de lucro à instituição. Os que trabalham em paraísos fiscais, quase seis vezes mais (171 mil euros)

Neste trabalho, "Abrindo os Cofres: O uso de paraísos fiscais pelos maiores bancos europeus", os técnicos da Oxfam desmontam os números.

Nas Ilhas Caimão por cada funcionário os bancos obtêm 6.298.000 de euros de lucro. Em Curaçau, 4.157.000 euros. No Luxamburgo, o país europeu onde cada trabalhador bancário gera mais proventos aos seus empregadores, 454 mil euros. Mais uma vez a Irlanda surge logo depois também acima dos quatrocentos mil euros por ano (409 mil euros)

A importância dos paraísos fiscais pode também ser medida com outro indicador a que o estudo faz referencia.

Aquando do escândalo dos Panamá Papers, ficou-se a saber que apenas cinco destes grandes bancos, com o inglês HSBC à cabeça, criaram mais de sete mil sociedades Offshore através da Mossack Fonseca, e o escritório de Advogados era apenas o terceiro no ranking dos fornecedores de serviços do género no Panamá.

O objetivo: mais do que movimentar o dinheiro dos seus clientes, movimentar para fora da zona de impostos o seu próprio dinheiro.

O resultado: em média estes vinte bancos pagaram de impostos 6% A taxa mais baixa na União Europeia é mais do dobro (12,5%).
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