Vacinas. Contrato com a Comissão Europeia isenta Pfizer de responsabilidades

por Joana Raposo Santos - RTP
Os Estados-membros terão pago 15,50 euros por cada dose da vacina da Pfizer. Lisi Niesner - Reuters

A Comissão Europeia já assinou com a Pfizer/BioNTech o segundo contrato para a aquisição de 300 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 a serem entregues ainda este ano. No entanto, nem este nem o primeiro acordo assinado foram divulgados na íntegra ao público pela UE. Agora, informações confidenciais reveladas por um jornal espanhol dão a conhecer o preço da vacina da Pfizer e mostram como a farmacêutica está isenta de quaisquer responsabilidades no que diz respeito a danos provocados a terceiros.

O segundo acordo com a Pfizer avançou sem que a UE tenha divulgado publicamente os termos contratuais do mesmo, tal como aconteceu com o primeiro. Isto significa que não foram dados a conhecer os preços de cada dose, os processos de entrega das vacinas ou as possíveis indemnizações em caso de falhas por parte da farmacêutica.

Após ser alvo de críticas pelo facto de não divulgar o conteúdo dos contratos, a União Europeia acabou por divulgar, no início deste ano, os documentos celebrados com as fabricantes de vacinas já autorizadas ou em via de o serem. No entanto, foram rasuradas informações relevantes dos documentos, o que suscitou mais críticas do público.

Agora, o jornal espanhol La Vanguardia partilhou um contrato integral a que teve acesso, o primeiro celebrado entre a Comissão Europeia e a Pfizer/BioNTech, cuja vacina se tornou a principal a ser administrada na Europa – incluindo em Portugal.

O documento, assinado a 20 de novembro pela presidente do programa de vacinas da Pfizer, Nanette Cocero, e a comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, refere-se à compra de 200 milhões de doses de vacinas pela UE, com a opção de vir a comprar mais 100 milhões de doses.

O contrato revelado pelo La Vanguardia inclui uma cláusula sobre as eventuais responsabilidades da Pfizer/BioNTech no caso de as vacinas provocarem danos a terceiros, incluindo a empresas.

O texto esclarece que toda a responsabilidade recai sobre a própria Comissão Europeia e os países membros da UE. A farmacêutica diz responsabilizar-se caso ocorram falhas na fabricação das vacinas, mas a partir do momento da entrega das mesmas aos 27, todas as suas responsabilidades terminam e não estão previstas indemnizações.

O texto não faz referência a indemnizações no caso de efeitos adversos não descritos na ficha técnica da vacina em pessoas a quem esta tenha sido administrada.
Vacinas da Pfizer custam 15,50 euros por dose
Uma das informações até agora mantidas em segredo e que surgem neste documento diz respeito ao preço das vacinas, algo sobre o qual as autoridades europeias se tinham já recusado a falar devido a um compromisso de confidencialidade, de modo a evitarem conflitos com outros países e farmacêuticas.

Ao contrário do que disse um funcionário do Governo belga no Twitter, apontando para 12 euros por dose – o segundo preço mais alto a seguir ao das vacinas da Moderna, que custam 18 euros por dose -, o valor das vacinas da Pfizer é, afinal, mais elevado.

Segundo o contrato com a Comissão Europeia, os primeiros 100 milhões de doses da Pfizer custaram 17,50 euros por unidade. Entre os 101 e os 200 milhões de doses adquiridas, o preço baixava para 13,50 euros. Isto significa que o valor médio de cada vacina foi de 15,50 euros.

O acordo previa ainda que, se a UE encomendasse outros 100 milhões de doses extra nos primeiros três meses após a autorização da vacina pelas autoridades competentes, o preço de cada uma das novas doses se fixaria em 15,50 euros (mais impostos). Caso contrário, subiria para 17,50 euros. A Comissão Europeia acabou por pedir esses 100 milhões de doses logo uma semana após a primeira aquisição, pelo que o preço não aumentou. Os Estados-membros pagaram 15,50 euros por cada dose da vacina da Pfizer.

A título de adiantamento, Bruxelas pagou 700 milhões de euros (o equivalente a 3,5 euros por dose) pelos primeiros 200 milhões de doses. Os Estados-membros comprometeram-se a pagar o valor restante que lhes correspondia, conforme o número de doses que solicitassem, num prazo de 30 dias após receberem a fatura.

O mesmo contrato agora divulgado estabelece que os primeiros 200 milhões de doses de vacinas fossem entregues à UE até 15 de dezembro. No entanto, a entrega acabou por acontecer seis dias depois dessa data final.

Por fim, o contrato refere a possibilidade de os Estados-membros entregarem vacinas a países terceiros, quer através de doação como de venda. Se as doses forem vendidas, a Pfizer/BioNTech tem de ser informada e o preço tem de ser o estipulado no contrato.

Este documento tem uma validade de dois anos. Entretanto, Bruxelas já assinou um segundo contrato - que deverá ter ocorrido nos moldes do primeiro - com a mesma farmacêutica para a entrega de mais 300 milhões de doses este ano.

Neste momento, as autoridades europeias estão a negociar um terceiro contrato com a Pfizer para a aquisição de 1800 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 para os anos 2022 e 2023. Ainda não se conhecem os moldes desse terceiro contrato, mas o primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, revelou que o preço negociado por dose está a ser de 19,50 euros, um aumento considerável relativamente aos 15,50 atuais.
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