"Vamos lidar com isto". Polónia desvaloriza corte de gás russo e quer importar dos EUA e nações do Golfo

por Joana Raposo Santos - RTP
Varsóvia sublinha que as suas reservas de energia estão asseguradas. Reuters

A Polónia garante que conseguirá "lidar" com a ausência de gás russo, estando a considerar importações dos Estados Unidos e países do Golfo, depois de a gigante da energia Gazprom ter suspendido todas as exportações para território polaco e búlgaro. Em causa está a recusa de Varsóvia e Sófia de pagarem em rublos, conforme Moscovo exigiu. A União Europeia prometeu, entretanto, dar resposta à "injustificável e inaceitável" decisão russa. A Bulgária fala de "chantagem".

“Estou certo de que vamos arranjar forma de lidar com isto”, afirmou à BBC o vice-ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Marcin Przdacz, frisando que Varsóvia já planeava deixar de importar gás russo até ao final do ano, quando o seu contrato com a empresa Gazprom expirasse.

“A Polónia tomou algumas decisões há vários anos para estar preparada para uma situação como esta”, explicou. “Agora há opções para importar gás de outros parceiros”, incluindo os Estados Unidos e nações do Golfo, adiantou o vice-ministro.

A partir de 1 de maio, uma nova ligação a um gasoduto na Lituânia dará a Varsóvia acesso ao gás desse país. Para outubro está prevista a inauguração do gasoduto “Baltic Pipe”, que virá desde a Noruega e poderá substituir a maioria do gás que antes chegava da Rússia.

Segundo Przdacz, o anúncio de Moscovo só veio provar que a Rússia “não é um parceiro confiável em nenhuma área de negócios”, pelo que as restantes nações europeias deveriam interromper as suas importações de energia russa.

Varsóvia sublinha ainda que as suas reservas de energia estão asseguradas. A ministra do Ambiente, Anna Moskwa, disse aliás não existir ainda necessidade de retirar gás das reservas do país e garantiu que o abastecimento aos consumidores não será cortado.

A empresa estatal polaca de gás, PGNiG - que só no primeiro trimestre do ano comprou 53 por cento do seu gás à Rússia - confirmou entretanto a suspensão do fornecimento russo. O mesmo aconteceu com a Bulgária, onde 90 por cento do abastecimento vinha até agora da russa Gazprom.

O primeiro-ministro búlgaro considerou esta quarta-feira que o corte russo é “uma grave violação do contrato atual e é o equivalente a chantagem”. Segundo Kiril Petkov, a Bulgária está neste momento a rever todos os seus contratos com a Gazprom, uma vez que “esta chantagem unilateral é inaceitável”.
Rússia ameaça cortar fornecimento de gás a outros países “hostis”
O líder parlamentar da Rússia considerou esta quarta-feira que a gigante do gás Gazprom tomou a decisão certa ao suspender totalmente o fornecimento de gás à Polónia e Bulgária, defendendo que Moscovo deve fazer o mesmo com outros países "hostis".

"O mesmo deve ser feito em relação a outros países que são hostis à Rússia", escreveu Vyacheslav Volodin, presidente da Duma (câmara baixa do Parlamento russo) na rede social Telegram.

A Polónia diz, por sua vez, estar pronta para ajudar a Alemanha a importar gás de outros países que não a Rússia. Berlim já anunciou a intenção de encontrar alternativas ao fornecimento russo.

“Estamos prontos para expressar a nossa solidariedade com a Alemanha e para a apoiar na total interrupção do petróleo russo”, declarou a ministra polaca do Ambiente, Anna Moskwa, à rádio estatal Polskie.
UE considera decisão russa “injustificável” e promete resposta
A União Europeia considerou esta quarta-feira “injustificável e inaceitável” a decisão da gigante do gás Gazprom de interromper o abastecimento a alguns clientes europeus. Ursula von der Leyen adiantou que Bruxelas está a preparar uma resposta coordenada para travar esta escalada de ações de Moscovo.

"O anúncio pela Gazprom de que está a suspender unilateralmente a entrega de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa da Rússia de utilizar o gás como instrumento de chantagem. Isto é injustificado e inaceitável e mostra mais uma vez a falta de fiabilidade da Rússia como fornecedor de gás, [mas] estamos preparados para este cenário", reagiu a presidente da Comissão Europeia.

Numa declaração hoje divulgada, Ursula von der Leyen assegurou ainda estar "em estreito contacto com todos os Estados-membros".

"Temos trabalhado para assegurar entregas alternativas e os melhores níveis de armazenamento possíveis em toda a UE. Os Estados-membros estabeleceram planos de contingência para esse cenário e trabalhámos com eles em coordenação e solidariedade", precisou.

E, de acordo com a líder do executivo comunitário, "uma reunião do grupo de coordenação do gás está a ter lugar" esta quarta-feira. "Estamos a traçar a nossa resposta coordenada da UE. Continuaremos também a trabalhar com parceiros internacionais para assegurar fluxos alternativos e continuarei a trabalhar com os líderes europeus e mundiais para garantir a segurança do aprovisionamento energético na Europa", adiantou.

Neste momento, o armazenamento de todo o gás europeu está nos 32 por cento. Os Estados-membros estão a negociar regras de emergência que lhes permitam aumentar esse número para 80 por cento até novembro deste ano, assegurando assim o armazenamento para o próximo inverno, quando o consumo de gás é maior.

c/ agências
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