Vaticano pede moratória na luta dos EUA contra abusos sexuais na Igreja

por Joana Raposo Santos - RTP
Os bispos dos EUA têm sido alvo de críticas por não se responsabilizarem pelos escândalos de abusos sexuais que têm vindo a público Stefano Rellandini - Reuters

O Vaticano pediu à Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos que adie a implementação de medidas que responsabilizem os bispos envolvidos em escândalos de abusos sexuais na Igreja católica. O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo cardeal Daniel DiNardo, presidente da Conferência, que se disse “desapontado” com a decisão do Vaticano.

O pedido do Vaticano foi conhecido após um encontro no domingo entre o Papa Francisco e o seu embaixador nos Estados Unidos, o arcebispo Christophe Pierre. Na manhã desta segunda-feira, Pierre transmitiu a decisão ao corpo de 200 bispos dos Estados Unidos, que se reúne duas vezes por ano para debater e adotar novas políticas.

Para esta reunião estava planeado que os bispos católicos tivessem debatido e votado diversas “medidas concretas para responder à crise dos abusos”.O Papa irá convocar, em fevereiro, um encontro com bispos de todo o mundo para discutir a crise de abusos sexuais na Igreja.

As medidas incluíam a criação de uma linha telefónica para denúncias de abusos cometidos por bispos, a implementação de padrões de conduta para estes prelados e “protocolos para padres demitidos na sequência de situações de abuso”.

Com a chegada do pedido do Vaticano, os bispos norte-americanos poderão debater estas e outras medidas mas, para já, não poderão votar nas mesmas.

Blase Cupich, cardeal da cidade de Chicago e um dos aliados do Papa nos Estados Unidos, defendeu o debate das propostas e sugeriu que a votação seja realizada numa reunião de emergência em março do próximo ano.

“Precisamos, enquanto Conferência e enquanto bispos e irmãos, de abordar esta questão sem demoras, para o bem da Igreja”, declarou Cupich.
Onda de escândalos
Os bispos dos Estados Unidos têm sido alvo de críticas por não se responsabilizarem pelos casos de abusos sexuais que têm vindo a público nos últimos meses.

Em agosto deste ano, um relatório de 884 páginas revelou que mais de 300 padres no Estado da Pensilvânia abusaram sexualmente de menores nos últimos 70 anos, tendo as vítimas sido silenciadas pelo encobrimento sistemático pelos bispos.

Em junho, Theodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington, tinha já provocado uma onda de escândalos quando foi acusado de ter violado um rapaz décadas antes, em Nova Iorque. Desde então, vários homens denunciaram os abusos sexuais de que foram vítimas por parte de McCarrick quando passaram pelo seminário.

O ex-arcebispo, de 88 anos, foi afastado do colégio cardinalício e o Papa “ordenou a sua suspensão do exercício de qualquer ministério público, assim como a obrigação de ficar confinado à casa que lhe será destinada para uma vida de oração e penitência”.
“Cultura de prevenção”
Já esta segunda-feira, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Clemente, afirmou que a Igreja portuguesa está empenhada em desenvolver “uma cultura de prevenção e proteção de menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades”.

Num discurso na abertura da 195ª Assembleia Plenária da Conferência episcopal Portuguesa, que decorre até quinta-feira em Fátima, o cardeal patriarca considerou necessária a criação de um “diretório de pastoral juvenil em chave vocacional que possa ajudar os responsáveis diocesanos e os operadores locais a qualificar a sua formação e ação com e pelos jovens”.

Em setembro, foi aprovado um documento sobre o “drama” dos abusos sexuais de menores por parte de elementos da Igreja, que foi enviado ao papa Francisco, no qual os sacerdotes nacionais partilharam “o sofrimento do Santo Padre e de toda a Igreja” e se propuseram a “seguir as orientações para erradicar as causas desta chaga”.
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