Venezuela. Inclusão de Alex Saab na delegação do governo "não distrairá" oposição das negociações

por Lusa

A oposição venezuelana disse hoje que "não se distrairá" da agenda das negociações, apesar da decisão de Nicolás Maduro de incluir o empresário Alex Saab, detido em Cabo Verde e a aguardar extradição para os EUA, na delegação governamental.

"A delegação da Plataforma Unida da Venezuela (PUV) ratifica ao povo venezuelano e aos países que o acompanham o seu compromisso de fazer avançar a agenda de negociações, a fim de encontrar soluções para o país", afirmou a oposição, num comunicado divulgado em Caracas.

Na nota, a PUV pede ao Reino da Noruega para "assegurar que a delegação do regime cumpre as regras de confidencialidade acordadas e que regem o processo".

A oposição diz ainda que "converter este processo [negociações] numa guerra de microfones ou num debate mediático causa grandes prejuízos à negociação".

"O anúncio do pedido de incorporação [de Alex Saab] corresponde a uma estratégia de defesa do regime perante o processo judicial entre dois países com separação de poderes e democracia, cujos órgãos jurisdicionais estão a seguir um processo de extradição", explica o documento.

Segundo a PUV, esta "não é a primeira vez" que se adota esta estratégia, pois "existem precedentes, como o caso do guerrilheiro Juvenal Ovídio Ricardo Palmera Pineda, aliás `Simón Trinidad`, que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) incorporaram, para o libertar, na delegação colombiana de negociação de paz", mas "não teve sucesso e nunca pôde ser incorporado".

"Não nos distrairemos da nossa agenda central do processo no México: os venezuelanos precisam de um Acordo Integral que restaure a democracia e a possibilidade de emergir da imensa crise social, económica e política que nos afeta a todos", concluiu o comunicado.

A Venezuela anunciou, na terça-feira, que incluiu o empresário Alex Saab, detido em Cabo Verde e a aguardar extradição para os EUA, como "membro pleno" da delegação que representa o Governo nas negociações com a oposição venezuelana, no México.

"Informamos a opinião pública da decisão de incorporar o diplomata venezuelano Alex Saab como membro de pleno direito da Delegação do Governo Bolivariano", disse o presidente da Assembleia Nacional à televisão estatal venezuelana.

Considerado testa-de-ferro de Nicolás Maduro, Saab encontra-se detido em Cabo Verde, a aguardar extradição para os EUA.

Jorge Rodríguez, que é também chefe da delegação que representa o Governo nas negociações, explicou ainda que Alex Saab foi também incorporado "como delegado com plenas funções perante a Mesa Social, que foi aprovada no Acordo Parcial de Atenção ao Povo da Venezuela", assinado recentemente por ambas as delegações (Governo e oposição), no México.

"Alex Saab está há mais de 400 dias sequestrado numa prisão no estrangeiro, em violação do direito internacional, do Acordo de Genebra, dos direitos humanos e do devido processo", afirmou.

Rodríguez disse ainda que Saab foi detido quando "estava a cumprir funções para obter medicamentos e alimentos para o povo da Venezuela, no meio do bloqueio mais feroz que a história do país conheceu nos últimos 150 anos".

 Alex Saab, com 49 anos, de nacionalidade colombiana, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, na qualidade de "enviado especial" e com passaporte diplomático.

A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que invoca as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.

Washington pede a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.

Entre 13 e 16 de agosto, o Governo venezuelano e a oposição realizaram a primeira ronda de negociações, no México, com a mediação da Noruega.

A segunda ronda de negociações teve lugar entre 03 e 06 de setembro e os próximos encontros estão marcados para 24 e 07 de setembro.

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