Num discurso transmitido pela televisão estatal VTV, Nicolás Maduro anunciou que vai aprovar os investimentos necessários para que “milhares e milhares Igla (sistema portátil de lançamento de mísseis terra-ar de produção russa) nas mãos do povo armado para a defesa antiaérea e anti-míssil, para fazer das nossas cidades e vila lugares inexpugnáveis pelo ar”.
Rodeado de militares, numa cerimónia nos arredores de Caracas, o Presidente da Venezuela notou que os combates em terra são feitos pelos “soldados de Bolívar que fariam pagar caro ao império norte-americano qualquer ousadia de tocar o solo sagrado da pátria venezuelana”.
Nicolás Maduro acusou claramente o Presidente dos Estados Unidos de pretender intervir militarmente na Venezuela. “Que Donald Trump não nos ameace. Fora Donald Trump da Venezuela, fora as suas ameaças, aqui há força armada e aqui há povo para defender a honra, a dignidade e o decoro de uma pátria que luta há mais de 200 anos”.
As manobras militares, que foram convocadas por Maduro, contam com a participação de civis.
Guaidó apela a militares, a quem chama de "executores"
Os militares estão envolvidos no bloqueio da ajuda humanitária internacional, que continua às portas do país.
O presidente interino Juan Guaidó, a quem 50 países reconheceram a legitimidade de convocar eleições - incluindo Portugal e os Estados Unidos-, apelou novamente aos militares para que deixem entrar a ajuda enviada pelos americanos.
Juan Guaidó considera que o bloqueio à entrada da ajuda internacional constitui um crime de genocídio e apelidou os militares de “executores”.
“Entendo que queiram bloquear este elemento, o que faz deles quase genocidas. Os que estão hoje no Supremo Tribunal da Avenida Baralt dizem que declaram como inconstitucional a ajuda humanitária”.
Guaidó, que criticou a possibilidade de o tribunal “declarar como inconstitucional o direito à vida dos venezuelanos”, considera que tal “não é aplicável”.
Nicolás Maduro recusa a entrada desta ajuda defendendo que põe em causa a soberania do pais.
O Presidente venezuelano considera que a "emergência humanitária" é provocada "em Washington" para "intervir" na Venezuela e atribui a responsabilidade pela escassez de alimentos e remédios às sanções dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos têm reiterado que consideram todas as opções incluindo a militar, para derrubar o poder “chavista” da Venezuela, argumentando com a grave crise que atravessa o país.
Presidido por Guaidó, Assembleia Nacional - com maioria da oposição - não reconhece Maduro como Presidente legítimo desde janeiro, data do início do seu segundo mandato alegando que as eleições presidenciais de maio, que garantiram a reeleição de Maduro, foram ilegítimas.
À crise política na Venezuela, onde residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes, soma-se uma grave crise económica e social, com escassez de bens e serviços essenciais, que levou 2,3 milhões de pessoas a fugir do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Médicos protestam na fronteira
Perante a fome e a falta de medicamentos na Venezuela, os médicos foram protestar para junto da fronteira com a Colômbia.
“Faço um apelo ao regime e aos militares, sobretudo aos militares, pois a cada minuto que passa morre uma criança ou idoso no país. Por isso, a entrada desta ajuda tem de ser imediata e urgente. Precisamos dessa abertura e que chegue o mais depressa possível, tantos os alimentos como os medicamentos, aos nossos hospitais para podermos atender as pessoas”, explicou Omar Vergel, médico e participante na marcha.
Retida em Cúcuta, na Colômbia, a ajuda humanitária vai entrar em território venezuelano nos "próximos dias", garantiu o Presidente do Parlamento e líder da oposição, Juan Guaidó.
"A ajuda está numa espécie de centros de armazenamento e esperamos que nos próximos dias tenhamos a entrada da primeira ajuda humanitária", disse Guaidó aos jornalistas,
A 23 de janeiro, o líder da Assembleia Nacional autoproclamou-se Pesidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro, com a missão de realizar eleições presidenciais livres e transparentes.
Guaidó convocou uma nova marcha para terça-feira, Dia da Juventude, em memória das mortes de mobilizações anteriores – cerca de 40 desde 21 de janeiro, de acordo com as Nações Unidas.
Várias toneladas de alimentos e medicamentos, enviados pelos Estados Unidos, estão armazenadas desde quinta-feira em armazéns em Cúcuta, na Colômbia, perto da ponte internacional Tienditas, barrada pelos militares venezuelanos com dois contentores e um tanque.
Além de Cúcuta, a ajuda humanitária, enviada pelos Estados Unidos, deverá começar a concentrar-se em armazéns, um no Brasil e outro numa ilha das Caraíbas, ainda por determinar.