Violência contra jornalistas no Brasil cresceu mais de 105% em 2020

por Lusa

A imprensa brasileira sofreu 428 ataques no ano passado, incluindo dois assassinatos, número 105,77% superior ao de 2019 (208) e o maior das últimas três décadas, anunciou hoje a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) do Brasil.

Os dados constam no Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil -- 2020, elaborado e hoje divulgado pela Fenaj, órgão sindical que atribuiu esse aumento da violência à ascensão do `bolsonarismo`, "movimento político de extrema-direta, capitaneado pelo Presidente, Jair Bolsonaro".

"Um acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo [apoiantes de Bolsonaro] que, naturalmente, agride como forma de controlo da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e ou fraudulentas", afirmou a presidente da Fenaj e responsável pela análise dos dados, Maria José Braga.

A presidente do órgão destacou ainda que a contabilização, pelo segundo ano consecutivo, de duas mortes de jornalistas, "é evidência concreta de que há insegurança para o exercício da profissão no Brasil".

A Federação salientou que nunca havia registado um número tão alto de ataques a jornalistas desde que começou a redigir o seu relatório anual sobre liberdade de imprensa no Brasil no início dos anos 1990.

"Sozinho, Jair Bolsonaro respondeu por 175 registos de violência contra a categoria (40,89% do total de 428 casos): 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas, 26 casos de agressões verbais, um de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à Globo e dois ataques à Fenaj", indicou a Federação.

Para Maria José Braga, a postura do chefe de Estado` serve de incentivo para que os seus auxiliares e apoiantes também adotem a violência contra jornalistas como prática recorrente.

"Em pleno ano da pandemia provocada pelo novo coronavírus, quando o jornalismo foi considerado atividade essencial no país e no mundo, e os profissionais se desdobraram, muitas vezes em condições precárias, em busca da informação responsável e de qualidade para conter o avanço da doença, o Brasil registou uma explosão de casos de violência contra os jornalistas", frisou a Fenaj.

Segundo Maria José Braga, "houve crescimento em quase todos os tipos de violência". O aumento foi bastante expressivo nas categorias de censura (+750%) e nas agressões verbais/ataques virtuais (+280%).

O relatório aponta que as agressões físicas eram a violência mais comum até 2018, depois diminuíram em 2019 e, em 2020, cresceram 113,33%.

Os homens continuam a ser as maiores vítimas de violência contra jornalistas, representando 65,34% dos casos, mas foi registado também um aumento expressivo de ataques às mulheres.

"Os ataques verbais e virtuais contra as mulheres cresceram e sempre têm um caráter machista, misógino e com conotação literalmente sexual, o que é muitíssimo grave", destacou Maria José Braga.

Maria José fez um apelo para que as instituições tomem "providências enérgicas para que a violência seja investigada, combatida e punida" no Brasil.

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