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Washington e Moscovo em rota de colisão nos negócios do espaço

por Marcos Celso - RTP
Reuters

À medida que o SARS-CoV-2 ganha força em território norte-americano, Donald Trump vira-se para a conquista do espaço, em busca de recursos naturais, e abre a porta aos interesses comerciais nesta área. Moscovo, através da sua Agência Espacial, não gostou e já veio lembrar que o espaço sideral é "como um bem comum global".

Enquanto a humanidade se depara com milhares de mortos vítimas do novo coronavírus, o presidente Donald Trump olha para cima e sonha com a conquista e domínio espacial além Terra.

É certo que Trump está a cumprir o seu papel, não tivesse ele criado oficialmente, no ano passado, o sexto ramo militar dos EUA, a Força Espacial (USSF), mas também é uma certeza que, aos olhos do mundo, Trump parece querer desviar atenções dos problemas que nestes dias mais afetam o comum dos terráqueos, como é o caso do novo coronavírus, que já matou perto de 80 mil pessoas no globo, quase 12 mil nos EUA, que regista mais de mil mortos por dia.

Segundo o decreto assinado, na segunda-feira, pelo líder norte-americano, na prática, o espaço sideral é visto como o Oeste Selvagem, onde empresas privadas e nações interessadas na recuperação e no uso de recursos do espaço podem explorar e aplicar os seus interesses, garantindo-se – reforça o decreto – que os "americanos devem ter o direito de se envolver em exploração comercial, recuperação e uso de recursos do espaço sideral".

Atenta, e não satisfeita, ficou a Rússia, que prefere apregoar o princípio da visão de um cosmos "como um bem comum global". Mais. A Agência Espacial russa vê as últimas decisões da Administração Trump como sendo "tentativas de de se apropriar do espaço sideral e planos agressivos de apreensão de facto dos territórios de outros planetas” o que – dizem os russos - “dificilmente incentivarão outras nações a participar de uma cooperação frutífera". Estas palavras pertencem a Sergey Savelyev, vice-diretor de Roscosmos, responsável pela cooperação internacional.



As recentes decisões de Donald Trump não terão, assim, agradado a Valdimir Putin e seus conselheiros sobre assuntos do espaço. Na resposta, os russos recordam – e argumentam – com os tempos idos de outras conquistas históricas, nada pacíficas na História da Humanidade.

Deste modo, a Rússia acredita que as intenções norte-americanas, agora divulgadas, podem levar a conseqüências mais terríveis, tal com aconteceu em séculos passados.

Sabendo Putin que os EUA criaram recentemente o primeiro novo ramo militar dos EUA em mais de 70 anos, defendendo Trump, na altura, o espaço como "o mais novo domínio de combate no mundo", é expectável que Moscovo avance com novas movimentações nas pedras deste tabuleiro, respondendo ao que Trump já classificou como “absolutamente vital” que é “a superioridade americana no espaço”. 



O inquilino da Casa Branca refugia-se em argumentos como os das “graves ameaças à segurança nacional americana”.

Donald Trump abre assim portas para a exploração comercial espacial, nomeadamente visando a longo prazo a descoberta científica da Lua, Marte e outros corpos celestes, nos quais haverá luz verde para as empresas comerciais recuperarem e usarem recursos espaciais, “incluindo água e certos minerais", diz o decreto presidencial.



Neste documento oficial, Trump ignora o chamado Acordo da Lua – que conta agora com 18 países - oficializado em 1979 e que regulamenta a exploração da Lua de acordo com as nações aderentes, das quais não consta a ratificação dos EUA.

Neste desvio da “rota” presidencial, Trump é coerente com as intenções geradas pela criação da Força Espacial USFF, mas o momento para avançar com o sonho de dominar e negociar o espaço não parece ser o mais indicado, embora os analistas saibam que Donald Trump tudo fará para renovar o seu mandato em Washington. As previsões da nova doença fazem antever um país em grande depressão, o que não ajuda em nada às conquistas económicas do mandato da Administração Trump. 
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