Xanana Gusmão anuncia nova coligação para formar Governo em Timor-Leste.

por Lusa
Xanana Gusmão em Jacarta, Indonésia, em julho de 2019 Reuters

O líder do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, anunciou hoje a formação de uma nova maioria parlamentar para apoiar a formação de um novo Governo em Timor-Leste.

"Para ultrapassar o impasse, os partidos falaram. Estamos prontos para avançar com uma nova maioria. Temos 34 cadeiras no parlamento e nova maioria", declarou Xanana Gusmão, em conferência de imprensa.

"Perante o impasse, fazemos saber ao nosso povo e à sociedade que perante a situação de incerteza e indefinição políticas que estamos a enfrentar, estes seis partidos vieram aqui para confirmar publicamente que estão preparados para assumir a governação nos próximos anos", reiterou.

Presentes na conferência de imprensa, na sede do CNRT, em Díli, estavam os dirigentes dos seis partidos políticos que integram a coligação e o antigo Presidente timorense José Ramos-Horta.

Além de contar com o apoio dos 21 deputados do CNRT, maior partido da atual coligação do Governo, a nova aliança inclui ainda os cinco deputados do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) e cinco do Partido Democrático (PD).

Fazem ainda parte da nova coligação, os três deputados dos partidos mais pequenos no parlamento de 65 lugares, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente Mudança (um) e União Democrática Timorense (um).

De fora ficam apenas a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), maior partido com assento parlamentar, e o Partido Libertação Popular (PLP), força do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.

Xanana Gusmão recusou para já avançar pormenores sobre quando será apresentada a nova coligação ao Presidente de Timor-Leste, ou sobre a questão dos nomes de ministros indigitados, maioritariamente do CNRT, que o chefe de Estado recusou empossar.

Dirigentes do CNRT indicaram à Lusa que a nova coligação deverá ser apresentada na próxima semana ao Presidente timorense.Crise institucional

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, reagiu à nova coligação anunciada pelo ex-Presidente Xanana Gusmão, afirmando que vai criar uma nova crise institucional para forçar a realização de eleições antecipadas.
"Esta coligação foi formatada para criar nova crise institucional para irmos para eleições antecipadas", disse Alkatiri à Lusa.


"Estou a achar piada ao teatro que Xanana Gusmão organizou hoje de manhã", considerou o responsável, na sequência do anúncio do líder do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) da formação de uma nova maioria parlamentar para apoiar a formação de um novo Governo em Timor-Leste.

Horas antes do anúncio, Mari Alkatiri tinha afirmado à Lusa estar com "otimismo moderado" sobre a própria Fretilin conseguir uma maioria parlamentar, para a qual contaria com os oito deputados do PLP e mais os três dos partidos mais pequenos.

Questionado sobre esse aspeto, Alkatiri considerou ter havido coações sobre as forças mais pequenas.

"Não tenho dúvidas que houve coação. Por isso estou a dizer que é um teatro. Ele [Xanana Gusmão] sabe as pessoas que estão lá, estão coagidas para estarem lá", afirmou.


"Se eu não contasse com uma relação digna com todos, se fosse pela via que os outros usam, também teria todos eles neste momento comigo", disse.
Ramos Horta otimista

"Eu insisti desde a primeira hora que seja ele primeiro-ministro. É a figura de peso. E já no passado vimos que quando cede liderança a alguém sem a autoridade dele e sem o domínio dos dossiers pode resultar sempre em fragilidades, o que é natural", afirmou à Lusa José Ramos-Horta.

"Hoje, os outros parceiros da coligação também insistiram nisso. E como Xanana não disse que não, presumo que tem consciência, que está ciente de que é ele que deve dirigir o Governo nos próximos três anos", disse

Ramos-Horta disse ainda esperar que seja possível encontrar uma solução para o caso dos nomes indigitados para o Governo pelo CNRT e não empossados.

"Xanana disse que vai falar com o Presidente pela positiva. Vai tentar tudo e encontrar um acordo com o Presidente", afirmou.

O líder do CNRT "não se mostrou nada confrontacional. Está com uma postura muito positiva. No limite a decisão está com o Presidente da República que deve também caminhar ao encontro das propostas do novo Governo", acrescentou.

José Ramos-Horta adiantou que a nova aliança parlamentar deve ser apresentada a Lu-Olo, "até ao final da próxima semana".

O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta mostrou-se confiante que Xanana Gusmão assuma o cargo de primeiro-ministro do novo Governo, apelando ao chefe de Estado para aceitar a aliança parlamentar hoje anunciada.

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