Não procurem mais. A culpa é nossa. Dos portugueses. Principalmente das classes média e baixa. Fomos nós, todos em conjunto, irmanados pela desgraça, que conseguimos levantar este país e levá-lo aos números actuais, que não sendo motivo para grandes euforias estão pelo menos a dar o sinal certo. Para cima. Upa, upa!
O país cresce. Pouco mas cresce. O desemprego baixa. É verdade que os empregos são cada vez piores e mais mal pagos, mas há cada vez menos gente no desemprego. E só quem nunca passou por isto é que pode não dar importância a este indicador, o da criação de empregos que tira as pessoas do desespero e da falta de oportunidades. Que as obriga a partir para destinos longínquos com empregos incertos.
A culpa é nossa, dos portugueses. Dos que tiveram os ordenados cortados e foram obrigados a fazer gestão financeira e a cortar nas despesas. Uma verdadeira reforma lá em casa que o Estado nunca fez no país. Quase não se cortaram privilégios nem se cercearam abusos. Abusaram de nós, do nosso esforço e da nossa paciência. Há muitos anos que é assim.
Nas casas espalhadas por esse país cortou-se nos luxos e nas evasões de fim de semana, cortou-se nas despesas com as aulas de música e com as explicações, nas despesas com roupa e alimentação, nas idas ao dentista e à farmácia. Houve gente a mais a viver em casas minúsculas. Filhos que voltaram para casa dos pais e pais que só encontraram conforto em casa dos filhos. Empilhados e sem confortos os portugueses tudo foram suportando, com queixume mas quase sem azedume. Anos a fio.
A culpa foi dos empresários deste país. Daqueles que não mandaram a toalha ao chão. Que continuaram a investir contra ventos e marés. Muitos dispensaram trabalhadores mas não fecharam. Procuraram outros destinos, outros mercados, outras oportunidades. Preocuparam-se e esforçaram-se, sabe Deus com que estado de ânimo e com que custos para a saúde e para os nervos.
Fomos nós, todos nós, os pobres, remediados e menos pobres, e os mais ricos também em muitos casos, os culpados do país estar agora com uma linha de esperança no horizonte apesar dos sinais evidentes de uma tempestade sempre à espreita.
Não procurem mais. A culpa é nossa. Dos portugueses. Principalmente das classes média e baixa. Fomos nós, todos em conjunto, irmanados pela desgraça, que conseguimos levantar este país.