Organizem-se!

Já aconteceu no caso de Manuel "Palito", e em outros casos menos mediáticos, e está a acontecer agora no caso de Pedro "Piloto" Dias, com o ruído que a gravidade da situação justifica. Há um psicopata a fazer "gato sapato" de dezenas e dezenas de operacionais, alguns das equipas de elite, de duas forças que apresentam regularmente bons resultados no combate ao crime: a GNR e a Polícia Judiciária.

O problema é que são duas forças, tal como a PSP, que não sabem trabalhar em conjunto em situações como esta, como o histórico tem provado. Cada força colocou a sua própria operação no terreno, de forma autónoma, querendo chamar a si os louros de um eventual sucesso, sem que exista uma efectiva coordenação no terreno. Desde logo porque as mais altas chefias de cada lado recusam ceder poder e responder às mais altas chefias do outro lado. Sempre assim foi e assim será se não forem tomadas medidas.


O Diário de Notícias garante que até agora nem sequer existiu uma reunião conjunta para definir as tácticas operacionais. Não há uma comando único, nem um gabinete de crise para responder a uma situação extrema como esta. A PSP, a quem cabe garantir a segurança nas áreas urbanas, com uma rede de informadores e de experiência operacional nestas áreas, nem sequer está a participar de forma activa nesta busca ao homem. Cedeu informação à PJ sem o respectivo retorno.

Há pessoas à frente das forças de segurança que estão a colocar populações em risco, apenas porque nestas guerras de alecrim e manjerona, que são o dia a dia no terreno, todos querem aparecer na comunicação social como os heróis de um processo que já provocou duas mortes - uma deles de um militar da GNR - e dois feridos graves - um deles outro militar da GNR. Ou seja, nem para vingar os seus as forças de segurança se conseguem entender de forma aceitável para que seja garantida uma eficácia no combate ao crime que está manifestamente a faltar neste caso.

O Governo, através da invisível ministra da Administração Interna, fez saber através do DN que está muito preocupado com a falta de resultados e com o alarme provocado na população. Mas o que fez até agora Constança Urbano de Sousa para tentar que isto não aconteça para além de, tal como disse um porta-voz ao DN: "diariamente a srª. ministra tem telefonado à PJ para colocar à disposição todos os meios e recursos das polícias sob a sua tutela" para garantir o sucesso desta operação que já se tornou mais uma anedota nacional? 

A ministra não tem poderes para convocar as forças de segurança ao ministério e exigir que se entendam numa operação conjunta? Se já o fez já devia ter esclarecido a opinião pública nesse sentido. Onde anda a Secretária-geral do Sistema de Segurança Interna que depende do gabinete do primeiro-ministro? Por que é que o Gabinete Nacional de Segurança ainda não reuniu de emergência, como garante o DN, através de Mário Mendes, o ex-SG-SSI, juntando todas as autoridades incluindo as secretas?

O fracasso operacional desta caça ao homem mancha a imagem de forças habituadas a mostrar, regra geral, bons resultados no combate ao crime. Embora eu sempre tenha acreditado que há denúncias e escutas a mais e investigação a menos nos processos criminais, tenho uma boa imagem em geral das autoridades portuguesas. Mas este caso deixa a descoberto uma triste realidade portuguesa, que infelizmente não se aplica apenas às forças de segurança. O facto indesmentível de que neste país cada um olha apenas para o próprio umbigo, demonstrando uma vergonhosa incapacidade de trabalhar em conjunto e de dividir os resultados com outras pessoas. Quando tudo falhar passamos à fase seguinte, ninguém é o responsável e todos se vão apressar a atirar as culpas para o quintal do vizinho.

Os operacionais das forças de segurança portuguesas, que todos os dias arriscam a vida pela nossa segurança, mereciam melhor. Melhor imagem pública e melhor coordenação. Mas assim não vai ser fácil.

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