Mais do que uma polémica deliciosa para os jornais, a guerra entre Neymar e Cavani no Paris Saint-Germain é um teste à liderança de Unai Emery e à consistência e eficácia de uma equipa que pode dividir-se entre dois polos: o veterano Edinson Cavani, há muito estrela da equipa da capital francesa e adorado pelos adeptos, e Neymar Jr., recém promovido a estrela maior do futebol mundial muito por força dos valores astronómicos envolvidos na sua contratação, mais do que pelo talento, que é muito.
Cavani tem no contrato uma cláusula que lhe permite ganhar um milhão de euros no caso de voltar a ser o melhor marcador do campeonato francês, por isso precisa desesperadamente de ser a primeira opção na marcação de grandes penalidades e livres. Neymar - que se saiba não tem uma cláusula destas, mas na verdade poderá ter - saiu de Barcelona para largar a sombra tutelar de Messi e poder assim ver-se incluído no lote de finalistas na luta pela conquista da Bola de Ouro que lhe permita alcançar o Olimpo dos melhores jogadores do mundo na sua época.
Para isso precisa de ser como Ronaldo em Madrid e Messi em Barcelona, primeira figura, líder incontestado e principal opção nos lances que podem dar golo, porque Lionel Messi e Cristiano Ronaldo são máquinas goleadoras infernais e não é possível competir com eles sem entrar na contabilidade de bolas que entram na baliza.
Neymar já pediu a saída de Cavani, que por ter alinhado na Liga dos Campeões se tornou um activo menos atraente para a nova janela de transferências que vai abrir em janeiro. Ambos vão ter de conviver em Paris, partindo o balneário, provavelmente não será ao meio por força do forte lóbi brasileiro que domina a equipa francesa, e provocando uma quebra de eficácia competitiva que será motivada pelo mau ambiente nos bastidores que sempre acaba por se reflectir no entrosamento em campo.
Não vai demorar muito até que Cavani e Neymar se vejam envolvidos em lances de individualismo puro para retirarem protagonismo um ao outro, e, como sempre acontece nestas coisas, vão acabar por prejudicar a equipa prejudicando-se eles prórpios nos seus objectivos, quer de golos quer de títulos.
Se Cavani vir o título de melhor marcador da liga francesa a fugir fará pouco ou nada para ajudar Neymar a alcançar a glória, a crise será inevitável numa equipa ultra milionária que verá não apenas os ambicionados títulos a voar como os seus activos a desvalorizar. Mais cedo ou mais tarde vai abandonar Paris porque Neymar é o futuro e Cavani está a caminho de ser passado.
É aqui que entra Unai Emery. Entalado entre os egos de dois gigantes do futebol mundial - Neymar é 9 centímetros mais baixo que Cavani - o treinador espanhol tem pouca margem de manobra porque tomar o partido de um será afrontar o outro, com custos para a equipa, e na verdade o PSG não se pode dar ao luxo de abdicar de nenhum nesta fase.
Emery está no último ano de contrato com a equipa de PARIS e terá de chegar muito longe na Champions para garantir a sua sobrevivência na capital francesa, mas caso a crise se precipite antes o treinador poderá mesmo ser a primeira vítima desta guerra e ser obrigado a largar uma cadeira de sonho para qualquer técnico de futebol.
Sendo certo que os melhores lugares estão por agora ocupados, haveria certamente uns meses de desemprego pela frente, e que Emery teria de livrar-se do rótulo de treinador com pouco pulso para gerir egos, o que é uma debilidade mortal para quem aspira a equipas com a dimensão do PSG ou até de maior dimensão, como são os casos de Barcelona e Real Madrid.
Este é um teste que muitas vezes se coloca aos líderes principais, de equipas, governos ou empresas. Liderarem mesmo ou deixarem-se aprisionar pelos egos dos colaboradores que tentam secar tudo à volta preocupados apenas com os seus mesquinhos objectivos de promoção pessoal. Quem não lidera é absorvido pelas querelas que surgem e não dura muito tempo. O aviso está lançado.