De Espanha nem bom vento, nem bom casamento. Entendo, finalmente, esta expressão. Se os noivos forem como os políticos espanhóis, nem há casamento, nem separação. Vão passar-se meses de indefinição, de “chove não molha”, até que se consuma o ato, a boda, entenda-se. Quando ao resto, julgo que o impasse não deverá ser tão demorado. Aliás, se estivéssemos a falar de sexo, talvez a coisa fosse diferente, mas como o assunto tem a ver com liderança, poder, ambição, … pode tornar-se interminável, aborrecido e vergonhoso.

Pablo Iglesias saiu de cena (por agora). Pedro Sanchez é o alvo. O líder socialista está a ser pressionado por todos os lados. Dentro do partido, alguns barões, como Felipe González, pedem uma abstenção. Mariano Rajoy responsabilizou-o, 24 horas depois Albert Rivera, do Ciudadanos, acusou o antigo basquetebolista, Pedro Sanchez, de bloquear Espanha, de impedir um “cesto” de Mariano. Tanto Rajoy como Rivera dizem que, se o país avançar para terceiras eleições, a culpa é do secretário-geral socialista, que não deixa a bola avançar.

O Presidente do Governo (em funções) aceitou, depois de declinar em janeiro, o encargo do Rei para tentar formar um novo executivo. Iniciou negociações quase de imediato. Como num Déjà Vu, reuniu-se com o Presidente do Ciudadanos que só assegura uma abstenção no debate de investidura. Albert Rivera promete discussão e apoio ao Orçamento do Estado para 2017, mas para isso é necessário um novo executivo e Rivera mantem a recusa ao voto favorável a um Governo liderado por Rajoy. Ou seja, de nada vale.

Quanto aos socialistas, mantem-se o não, o voto contra. Esta semana, Pedro Sanchez fez questão de pedir a Mariano Rajoy para tentar acordos à direita, porque com o PSOE não pode contar. Ou seja, não há boda, não há casamento, nem sequer uma mínima atração para um início de namoro.

Rajoy confessa que ninguém disse que isto seria fácil, nem rápido. Promete continuar a tentar, mas também assegura que a responsabilidade é de todos. É como num divórcio, “a culpa é sempre dos dois”, dizem as respetivas famílias e amigos.

Sendo assim, não manda fazer o fato para a sessão de investidura, não esclarece se vai submeter-se ao crivo dos 350 deputados, quais convidados de um matrimónio onde, à última hora, a noiva pode não entrar na Igreja e a festa desmoronar-se como um castelo de areia, arrastado pela instabilidade das marés.

Com o fantasma de terceiras eleições a pairar sobre o congresso, depois das duas reuniões com os líderes do PSOE e do Ciudadanos, Mariano Rajoy continua a fugir à questão que mais dúvidas suscita. Não diz se, sem apoios suficientes, avança para a investidura, se vai submeter-se aos votos dos deputados. Aqui falta, claramente, confiança política, reina o medo de falhar, governa um enorme amor-próprio, que se sobrepõe a qualquer interesse nacional. Mas, os outros não estão melhores, neste país que se transformou no reino da instabilidade e do bloqueio político.

pub