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A democracia e o mundo dos outros entendimentos

Ontem saí da RTP indignado com a chegada de uma nova candidata ao processo de escolha da nova liderança da ONU, onde António Guterres conseguiu um importante leque de apoios, com ideias, argumentos claros e a defesa de um ideal. Ele estava a mobilizar uma organização que está totalmente inoperante perante os grandes desafios deste mundo.

Mas lá aparece uma nova candidata, apoiada pela Alemanha, para ultrapassar aquilo que chamam “impasse”. Impasse? Impasse é ter ideias claras e ganhar um favoritismo que segue os competentes e os que acreditam nos valores da liberdade? Será isso o tal impasse? Ou será impasse a necessidade de ter alguém que obedeça, sem perguntas, ao que se decide em Berlim ou num qualquer dos grandes clubes privados que realmente querem comandar tudo?

Irão certamente contar mil e uma histórias, daquelas que este tipo de figuras sabe inventar, para justificar uma outra escolha para a ONU, que não seja o que todos já vimos e ouvimos nas ideias de António Guterres.

A noite estava quente e resolvi ir jantar num dos bares da Praia da Aguda, que tem sempre bons petiscos. Sentei-me no canto de sempre. Aquilo é sempre animado, mas ontem havia duas mesas particularmente sonoras. Numa celebrava-se a contratação de uma das jovens mulheres por uma grande cadeia de restaurantes que se vai instalar no Porto. A rapariga trabalhava naquele bar e dava sempre o seu melhor, com competência e simpatia. Sorri e acabei por brindar com elas ao mérito e ao novo desafio.

Noutra mesa, outro grupo de mulheres, tendo uma delas um lenço na cabeça, corpo debilitado e a pele demasiado branca para aquele ar de noite de verão. Celebravam a vida animando com genuína amizade aquela amiga que estará a travar uma difícil luta que não pode perder.

Na conversa o caso da ONU era coisa distante. Ali celebrava-se o mérito, a vida, a amizade pura, sem nenhum interesse, sem coisas escondidas e fidelidades estranhas. A luta daquelas duas mulheres é bem diferente. Cada copo tinha o sabor autêntico de quem acredita que nada é impossível, quando entramos numa batalha, certos de que podemos ser derrotados, mas de que demos o nosso melhor para tentar mudar o mundo.

Espero que a ONU não se vergue mais e tenha coragem de dizer não a este vergonho golpe, feito e arquitetado bem diante dos nossos olhos, como que a dizer, liberdade e competência são coisas que queremos deixar de lado. Aqui o que interessa é ter “piões” obedientes, num estranho jogo onde nos estão a colocar.

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