A realidade que mata os sonhos

A Catalunha levantou os braços, abriu o sorriso, mas, uns segundos depois, percebeu que a independência não seria coisa ainda para agora. Os rostos daquela multidão que seguia o discurso de Carles Puigdemont resumem em pleno estes dias.

Um amigo catalão dizia-me que ali estava a expressão que caracteriza tantos momentos da história daquele povo. Estivemos quase lá, mas não conseguimos lá chegar.

A multidão diluiu-se com a noite de Barcelona, silenciosa, sem gritos ou confrontos e regressou a casa. Há imensas pressões sobre Barcelona e Madrid, mas há um movimento económico robusto que sustenta as teses dos que defendem apenas uma autonomia mais vincada, sem uma rotura com Espanha.

As grandes empresas assumiram um papel de destaque e mostraram a Barcelona que esta Europa e este mundo globalizado têm outras regras que estão muito para além dos simples ideais, por mais legítimos e genuínos que sejam.

A saída de alguns e a ameaça de outros, mostra que dar um passo arriscado pode significar um desastre económico que ninguém consegue prever. A Europa com Donald Tusk na liderança lidera uma mediação que ninguém assume, mas que se revelou fundamental para as duas partes não terem imediatamente extremado posições.

A União Europeia não quer divisões, num continente ainda cheio de feridas recentes, nem sobressaltos económicos numa Espanha que está no caminho do crescimento, em linha com os outros parceiros em recuperação.

Rajoy fez o discurso que a sua base de apoio queria ouvir. Puigdemont nem por isso e terá que lidar também com as divisões claras no bloco independentista na Catalunha. A crise começou com a vontade de votar, de escolher, e acho que é assim que vai acabar, com eleições autonómicas e no limite com novas eleições gerais em Espanha, se o minoritário Governo do PP também perder a base de apoio.

As democracias são assim. Resolvem os problemas perguntando aos eleitores o que querem fazer. É assim é e assim que deve ser.

Seguindo a letra do Grândola, que também se canta agora na Catalunha, o povo é quem mais ordena. Vamos ver.

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