A responsabilidade

Continuamos a debater a responsabilidade pelas mortes nos fogos de Pedrógão, mesmo quando a lei é clara e obriga as gestoras das vias a limpar, por muitos pareceres à medida que encomendem e plantem na comunicação social, mesmo quando já se percebeu e assumiu que os meios de socorro estavam mal organizados e responderam mal, mesmo quando o Estado já assumiu que vai pagar pela sua falha, o que é apenas um pequeno consolo para coisas que não têm preço.

Falta o debate olhar para a reflorestação, para o corte da madeira queimada e a plantação de árvores que nos garantam mais segurança, para a prometida reorganização e profissionalização das forças que nos deverão proteger melhor numa próxima, o investimento em novas indústrias que criem empregos e novas vidas.

Confesso que me irrita a conversa apenas à volta do dinheiro, das indemnizações, do IVA que era e depois não era. Foi uma tragédia terrível que tem as feridas ainda tão abertas para se andar todos os dias nesta conversa de euros e mais euros. Será que alguém me sabe dizer quando vale mesmo uma vida? Será que a perda de tantas almas não nos deve manter mobilizados para se resolver de vez o problema base de um país que não consegue ter um sistema seguro de proteção civil?

Na tragédia vamos percebendo a teia de interesses, as vontades de protagonismo, os momentos para as televisões. Estamos todos obrigados a muito mais que isto.

No recato, lá esquecido no interior de sempre, há um país para reconstruir, há tantas vidas à espera de sentido, há tanto para se começar mesmo a fazer. Nesta parte, a silenciosa, que está mesmo a trabalhar, há também tantos belos exemplos para seguir. É preciso fazer mesmo baixar a fumo desta superficialidade e continuar a fazer todos os dias mais pelo interior. Há quem esteja já a fazer por isso sem se chorar todos os dias pelo... dinheiro.

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