As guerras de que pouco falamos

Esta semana entrevistei no Jornal 2 os ministros da Defesa de França e Portugal. A conversa foi por estes dias, pelos desafios que nos coloca o terrorismo e para a ameaça que podem significar para países como Portugal, as guerras no Mali e na República Centro Africana, onde estão nesta altura militares portugueses. De olhos nos dramas diários no Mediterrâneo, percebemos que a viagem do desespero não tem apenas partida na Síria ou na Líbia.

O fenómeno é mais alargado e a África subsaariana é um terreno de desgraça, onde a falta de desenvolvimento empurra os povos para as mãos de redes de tráfico humano que os levam a embarcar na ilusão da riqueza na Europa. É aqui que se estão a fortalecer organizações radicais, terroristas, com ambições de controlo de grandes negócios. 


O professor Azeredo Lopes admitia mesmo que o Mali se pode tornar num dos novos santuários do terrorismo internacional, se não tiver sucesso a tentativa de estabilizar o país. O ministro francês da Defesa teme que as redes que crescem naquela zona se estendam a mais países da região e alarguem as ligações internacionais, com um novo perigo que nos deve manter muitos mais atentos a esta zona do globo. 

Pela conversa passou também a guerra ao estado islâmico e o temido regresso à Europa dos muitos combatentes que estão agora na Síria e no Iraque. É efetivamente um dos maiores desafios para a segurança do velho continente. Vencer militarmente o Daesh não será o fim da guerra e poderá ser o começo de uma nova era de radicalismo, que a não ter uma resposta integradora, potenciará as soluções populistas de fecho de fronteiras e da construção de muros.

Sem um desenvolvimento mais justo, com oportunidades em África, na Europa, na América, teremos sempre campo para os vendedores de ilusões que arrastam multidões desesperadas para uma viagem pelo mundo à procura de uma outra terra de paz. O problema será lidar com o desencanto de todos esses quando chegarem a países que julgam de acolhimento e ficarem travados num muro ou numa fronteira fechada, que matará todos os sonhos.

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