O relatório dos fogos e o que vai acontecer

O debate político continua quente, como estes dias de um verão que nunca mais acaba. Percebemos bem que o Governo queria reformar a Proteção Civil e dar força à reforma da floresta depois do verão, mas não colocou nas previsões a tragédia que veio ainda tornar mais urgente uma mudança corajosa. António Costa já tinha lido este caminho quando era ministro da Administração Interna, mas não conseguiu ter a força e reunir os apoios para o seguir.

A chuva de inverno tem apagado o debate sobre os fogos de verão, dando ainda mais tempo para a desorganização reinante nas florestas. Foram tantos os alertas fundamentados, as propostas para alterações, as mortes como aquelas do Caramulo, onde Xavier Viegas dizia que isto ia voltar a acontecer, mas o debate não levou a soluções. 


Estes relatórios de hoje não são perfeitos, acho até que a leitura que é feita do caos no comando da ANPC será um pouco desenquadrado, mas mostram uma inevitabilidade que nenhuma força de pressão ou forte grupo de interesses poderá travar. Essa é a dúvida que nos assalta a todos e que teremos que manter desperta mesmo quando chegar a chuva. São demasiados mortos, são escandalosos milhões que andamos a queimar com a floresta, são todas a evidencias de que agora há mesmo que reler o documento que António Costa, ministro, teve que deixar cair na gaveta e que mais nenhum Governo se atreveu a ler, até hoje, e à desgraça que nos caiu em cima. 

Não chegámos aqui apenas com os problemas de ontem, mas amanhã será tarde para entrar num campo de decisões que todos concordamos, mas que vão chocar com tudo e todos os que sempre foram ganhando com o imobilismo e este abandono progressivo de uma das maiores riquezas do país. 

Vamos ter fortes efeitos na economia, que é preciso aproveitar para investir no interior. O Turismo perde parte do verde da região que mais está a atrair olhos curiosos. As pessoas têm que continuar a sentir o afeto de um abraço, que tem que ser mais do que isso na reconstrução e no alargamento do potencial imenso de um país tão inclinado para o litoral. 

Temos as pessoas, há decisão política, o Governo garante que há dinheiro. Seja então a hora...

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