O sorriso na Mara

Bangui alberga praticamente metade da população da República Centro-Africana. O comércio regressa aos poucos, mas muito pouco se produz neste país, e importar, sem estradas nem acesso ao mar, é coisa muito cara e facilmente controlada pelas máfias que crescem sempre nestes cenários.

Hoje fomos a dois locais que recebem refugiados. Uma escola, transformada em dormitório, onde se aprende nas salas que depois serão casas, ao cair da noite, e uma missão católica que acolhe os meninos desta terra e deixa as famílias viver em tendas no campo mais seguro.


Marcou-me o olhar tranquilo de uma freira que ali nos recebeu. Estava rodeada de crianças, de tantas histórias violentas, mas ela tinha um sorriso tão simples que desconcerta qualquer europeu. 

Sentimos ali, da forma mais violenta, a sorte de ter nascido nuns país tranquilo como Portugal. Há tantos meninos nesta África. 

Mara Lopes, uma portuguesa que tem um papel fundamental na Organização Internacional das Migrações, confessava que eles são sempre a esperança destes países, se os mais velhos conseguirem agarrar as oportunidades de paz. 

No quartel dos Comandos Portugueses a conversa vai sempre bater nessa tecla, com muito mais perguntas do que respostas. Eles estão aqui, armados até aos dentes, mas com o coração cheio de angústias. Nem mesmo os militares, treinados para todas as guerras, ficam indiferentes à barbárie destes conflitos entre grupos armados. 

A violência ultrapassa sempre tudo aquilo que podemos imaginar. Quando saímos da escola e nos despedimos da Mara, fiquei a pensar na dedicação deste imenso grupo de cidadãos do mundo que deixam tudo para ajudar, nem que seja no mais pobre dos países. 

Viemos cá para contar a história deste povo, mas também dos outros povos que dizem sim ao apelo para o mais básico dos princípios das Nações Unidas. Devolver a esperança e a paz a que todos deveríamos mesmo ter direito.

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