Não há como o preço para dar cotação à conquista.

Em 28 anos de jornalismo, nunca conheci um lápis azul. Já sou da geração que só os usou para colorir. Para mim, o 25 de Abril de 1974 foi um relato na rádio, uma novela que me ficou gravada na memória e, organizado como o meu pai é, também num par de cassetes que ainda resistem no espólio da família.

Ou seja… não nasci usufrutuário da liberdade conquistada, mas ela acomodou-se a tempo de não me fazer penar por ela. Ainda me ficaram episódios estranhos que testemunhei, que só muito mais tarde encaixei na devida gaveta da História: uma confusão de móveis e papéis queimados, atirados das janelas da embaixada de Espanha, um céu “cheio” de aviões de guerra a caminho de Lisboa, uma caravana política atacada em andamento, um… linchamento na rua, à minha frente. A proibição velada das procissões.

Estive nas manifs, ganhei cravos. Senti o poder do troar conjunto das palavras de ordem à minha volta.

Vi-lhes o sincronismo avenida abaixo e acima, do alto do meu metro e vinte. Nunca fui nem desejo ser preso político, herói de Abril ainda menos (nasci em Maio). Assisti apenas, serviram-me o resultado da luta numa bandeja e agradeço.

Sem pagar, aprendi ainda assim, migalha a migalha, que a luta pela Liberdade se faz todos os dias e ainda é pior que a luta pelo título: nunca está garantida.

Até arrisco uma definição mais futebolística dela, que me remete para o meu devido lugar, o Desporto:

A Liberdade, para ser livre, não pode ser vitória. Precisa mesmo é de ser sempre empate.

Porque a minha não pode ganhar à tua sem que tu a percas mais que eu.

Porque, para a Liberdade ser livre, nem uma maioria de liberdades juntas pode silenciar uma minoria delas.

Assim, é dado adquirido que a Liberdade tem de ter preço, todos os dias.

Senão, chamávamos-lhe Liberdada, não era?

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