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Um secretário-geral da ONU com mérito

A procura de transparência foi o principal motivo que levou a Assembleia Geral das Nações Unidas a afinar o processo para a escolha do próximo secretário-geral da organização. Foram criadas condições para um largo escrutínio de todos aqueles e aquelas que se apresentaram para ocupar um dos cargos diplomáticos mais apetecíveis e visíveis do mundo.

Foram postas em prática, com audições públicas, debates, a explanação da visão de cada candidato face aos problemas do mundo e da Organização das Nações Unidas. Havia, contudo, dois requisitos: o cargo deveria ser ocupado por um representante da Europa de Leste, área a quem, por um sistema de rotação, caberia designar o próximo secretário geral. E pretendia-se, em nome da igualdade de género, que fosse uma mulher. Mas a realidade alterou estes pressupostos.

Surgiram candidatos de várias continentes, homens e mulheres que sentiram o apelo do cargo. Sinal dos tempos, sucessivas votações informais estão a dar ao português António Guterres um consenso assinalável entre os quinze representantes com assento no Conselho de Segurança.

A questão do género e a pertença a uma área geográfica deixaram de ser, aparentemente, essenciais, prevalecendo o mérito como o elemento mais determinante para a escolha do representante máximo da ONU. Se assim for até ao final, as Nações Unidas mostram que se souberam adaptar às exigências dos cidadãos e dos países e dão uma lição ao mundo.

Um contraste com as jogadas de bastidores que levaram sectores do centro-direita europeu a pretender lançar uma candidatura de última hora, uma mulher de Leste, búlgara, Kristalina Georgieva. Nos últimos dias assistiu-se a uma série de meias-frases e desmentidos em torno desta putativa candidatura.

O caso é ainda mais bizarro porque a Bulgária já apresentou uma candidata, a directora-geral da Unesco, Irina Bokova. Ela faz hoje parte da família política do centro-esquerda europeu.

Estas jogadas sugerem menos uma escolha com base no mérito e muito mais numa selecção tendo por base a pertença a um determinado partido. É certo que fazem parte da política, daquela política que tem afastado os cidadãos dos partidos tradicionais, dos órgãos de soberania e das instituições supranacionais.

Insistir na transparência continua, por isso, a ser essencial. E não só na escolha do próximo secretário-geral da ONU. Um mundo melhor é um mundo onde as acções dos seus dirigentes são, de facto, mais transparentes.

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