A (s) oportunidade (s)

O futebol é, cada vez mais, a oportunidade. Uma oportunidade que é aproveitada por uns e que é desaproveitada por outros. Dirão outros que é a vida. Neste caso é a vida dos futebolistas de alta competição. Quem diria, antes do campeonato da Europa de França, que o avançado Éder iria ser uma espécie de herói nacional com o golo que nós deu o título de campeão europeu? Acho que nem ele próprio, nos seus mais delirantes sonhos, acreditava que isso fosse possível. Quem diria, em janeiro, que Renato Sanches iria ser umas das grandes figuras do futebol nacional nos seis meses seguintes e que acabaria por protagonizar uma das maiores transferências da história do futebol nacional e logo para o colosso Bayern de Munique? Nem ele seguramente acreditava que isso poderia acontecer.

Na antevisão do jogo com o Besiktas a contar para a Liga dos Campeões, Rui Vitória, o treinador do Benfica, disse a propósito das inúmeras ausências que afetaram a equipa que “os que não estão presentes são belíssimos jogadores, mas às vezes de um problema sai uma oportunidade”. Ele, melhor do que ninguém, sabe do que fala porque na época passada foram várias as lesões que lhe permitiram ir descobrindo talento que estava guardado no Seixal à espera da sua oportunidade e que o ajudou, a ele e ao Benfica, a sagrar-se tricampeão nacional. Foi por causa disso que apareceram Ederson, Renato Sanches ou Lindelof que souberam aproveitar as lesões alheias para pegarem de estaca na equipa. Esta temporada, as saídas de alguns jogadores abriram a porta à titularidade de alguns atletas como André Horta que veio de Setúbal e que está a confirmar mais rapidamente do que se esperava toda a qualidade que já tinha evidenciado nas várias épocas em que esteve no Bonfim.

Quem tem talento tem sempre mais possibilidades de ter oportunidades e de o ver confirmado e reconhecido. Pode demorar mais tempo mas a coisa acaba, mais tarde ou mais cedo, por acontecer. Ontem, no estádio da Luz, o brasileiro Talisca, agora emprestado ao Besiktas, marcou um golo que tirou dois pontos à sua antiga equipa, bem como algumas centenas de milhares de euros. Vamos deixar de lado as declarações que fez no final do jogo num sentido quando falou à RTP e noutro, completamente oposto, quando passou para a Sporttv – só aqui demonstra a sua verdadeira personalidade – e quando atacou o clube da Luz e os seus dirigentes. Ao longo dos 45 minutos em que esteve em campo, o baiano soube aproveitar a oportunidade para demonstrar que tem muita qualidade, tal a forma como soube espevitar o futebol da sua nova equipa. Aquilo que fez levou inclusive muitos adeptos dos encarnados a colocarem em dúvida se o clube fez bem ou mal em o ter dispensado. Ou seja, soube aproveitar a sua oportunidade que seguramente satisfez a sua nova entidade patronal e os seus novos adeptos.

É por estas e por outras que me faz confusão que os líderes dos clubes tenham, por vezes, grandes dificuldades em deixar sair alguns jogadores com o argumento de que fazem muita falta à equipa. A frase é mesmo estafada mas os cemitérios estão cheios de imprescindíveis. O futebol – insisto nisto – é a oportunidade e o momento e há situações que não se repetem. Um jogador que fez nesta época um grande campeonato europeu ou mundial, por exemplo, pode não o voltar a repetir – o futebol está cheio desses exemplos. Até porque a saída de uns costuma ser a descoberta de outros com tanta ou mais qualidade que os anteriores. É a velha ideia de que se fecha uma porta mas pode abrir-se uma janela ou mesmo uma marquise. É a tal oportunidade…

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