Ambiente poluído

O clássico de domingo, no Estádio da Luz, não durou apenas 90 minutos e é pena porque o jogo até foi intenso, interessante e razoavelmente bem jogado. Desta vez ganhou o Benfica mas o Sporting, em minha opinião, até jogou melhor, principalmente na segunda parte e, em boa verdade, merecia outro resultado. Mas, como se sabe, no futebol contam as bolas que entram na baliza adversária e aí os tricampeões nacionais foram melhores porque meteram duas contra apenas uma dos leões. É certo que Jorge de Sousa terá tido erros, alguns dos quais influenciaram o resultado, mas isto também faz parte do espetáculo.

O rescaldo do jogo e tudo o que tem vindo a ser dito e escrito nos dias seguintes é que me parece um exagero mas, porque já cá ando há algum tempo, não estou nada surpreendido com esta troca de palavras, comunicados e entrevistas. Só quem esteja distraído ou seja ingénuo é que pode ficar espantado com as ondas de choque de um jogo deste calibre porque estes jogos começam a jogar-se, por vezes, com semanas de antecedência e continuam a jogar-se dias depois de o árbitro ter apitado para o seu final. 


Estes duelos servem, acima de tudo, para se afirmarem lideranças e para se marcarem posições sobre quem manda, na verdade, no futebol português que, nesta altura, tem três galos para apenas um poleiro e, em meu entender, a luta só agora está a começar. Daqui por uns anos – três ou quatro no máximo – quando apenas o campeão nacional tiver acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões e, consequentemente, aos milhões do futebol europeu, tudo será ainda pior e mais radicalizado. A menos quem alguém comece a por travão a isto.

Bruno de Carvalho, no seu estilo muito próprio, apontou baterias a tudo e a todos e, numa entrevista à CMTV e ao CM, disparou em várias direções. O presidente do Sporting criticou a Liga de Clubes, a Polícia de Segurança Pública, o Tribunal Arbitral do Desporto, o Benfica e Luis Filipe Vieira. Falou dos cinco pontos que a equipa de futebol tem de atraso para recordar que as contas fazem-se em maio. Antes disso, lembro eu, há eleições em Alvalade e tudo indica que a atual liderança vá ter oposição. 

Para quem tem memória, o líder leonino é diferente daquilo que faziam Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira no início das suas carreiras de presidentes dos seus clubes? Nem pouco mais ou menos. A estratégia é igual. O discurso é o mesmo. Os métodos são tirados a papel químico com uma pequena diferença, porque vivemos agora uma época em que a comunicação é feita de forma tão instantânea que os departamentos de comunicação dos clubes grandes são quase tão importantes como os avançados que marcam os golos nas balizas adversárias. Não deixa de ser curioso que também esta semana Pinto da Costa tenha aproveitado a fase muito positiva dos dragões – duas goleadas seguidas, uma das quais para a liga dos campeões – para dar uma entrevista ao Jornal de Notícias. Há alguma diferença de método entre os dois presidentes? Nada. Apenas de forma.

Chegados aqui era bom que a Liga de Clubes e a Federação Portuguesa de Futebol se começassem a preocupar com os danos que este tipo de discurso possa trazer, a prazo, ao futebol português. Isto se estiverem preocupados! Como? Há exemplos no mundo do desporto que nos podem ajudar a lidar com isto. A NBA – a liga de basquetebol norte-americana – já padeceu dos mesmos males que o nosso futebol e conseguiu lidar com eles sendo hoje um exemplo de sucesso. 

Os treinadores e os jogadores – os presidentes é como se não existissem – também criticavam tudo e todos. A coisa resolveu-se com a aplicação de multas gigantescas a quem pisava o risco. Talvez fosse a altura de, por cá, os regulamentos passarem a ter multas verdadeiramente dissuasoras. Pode-se argumentar que isso é pouco democrático. É certo mas quem não sabe viver com a liberdade tem de ser penalizado por isso. E acreditem que, neste momento, o ambiente está mesmo muito poluído e a precisar de ser melhorado.

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