Batatas quentes

Estavam os adeptos a recuperar de um final de temporada alucinante - Benfica e Sporting discutiram o título ombro a ombro ao longo das últimas doze jornadas com tudo a ser decidido na última -, ao mesmo tempo que se ganhava balanço para o Euro 2016 - que começa na semana que vem e onde a seleção portuguesa já avisou que vai estar presente para discutir o título europeu -, quando uma decisão do Tribunal Administrativo de Lisboa voltou a lançar a confusão sobre a principal liga portuguesa de futebol numa espécie de prolongamento sem se perceber muito bem quando e como é que as coisas podem terminar.

Dez anos depois do famoso e, pensava eu, erradamente, já enterrado caso Mateus, eis que os juízes vêm declarar nula uma decisão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol - nesse tempo as decisões jurídicas eram mesmo para rir ou chorar, depende da perspetiva - que decretou, administrativamente, a descida de divisão do Gil Vicente de Barcelos por utilização indevida do angolano Mateus que tinha jogado no Lixa e era jogador amador, não podendo ser inscrito, nessa temporada, como profissional.

No entretanto o avançado angolano já passou pelo Boavista, Nacional da Madeira, 1º de Agosto de Angola e Arouca. Como diz o Paulo de Carvalho na canção: dez anos é muito tempo mas neste caso não são muitas cantigas mas muitos jogos.

É certo que esta decisão é passível de recurso para um tribunal superior, mas será que o mesmo vale a pena? Tudo aquilo que não for resolvido agora terá de ser resolvido, seguramente, daqui por mais uns anos, pelo que se houver algum bom senso e, principalmente, uma análise cuidada do acórdão do Tribunal Administrativo, talvez seja melhor começar a pensar em resolver este assunto o mais rapidamente possível.

Isto para não falar da consequente indemnização que virá logo a seguir. A Federação Portuguesa de Futebol e a Liga de Clubes têm em mãos mais uma batata quente para resolver.

Num campeonato a dezoito equipas poderemos passar a um campeonato a vinte com a subida administrativa da equipa de Barcelos e com a repescagem do União da Madeira porque foi a equipa que ficou no décimo sétimo lugar no campeonato da época transata.

É isto que faz sentido, sendo que na próxima época, para voltarmos a ter um campeonato de dezoito equipas, terão de descer cinco. Isto já aconteceu e não é nenhuma novidade para ninguém. Problemática é mesmo a vida dos nossos clubes europeus porque, de um momento para o outro, terão de fazer mais quatro jogos na liga a que se juntam os jogos da Taça de Portugal, da Taça da Liga e das competições europeias.

É por isto que era muito bom que tudo fosse esclarecido de forma rápida para todos saberem com o que podem contar logo desde o início. Quanto a batatas quentes não ficamos por aqui.

Onde está a solução para o caso dos resultados combinados? Não há? Ninguém está preocupado? Todos os dias procuro nos jornais desenvolvimentos ou reações dos clubes a este caso e nada. É que é preciso não esquecer que há, pelo menos, três equipas envolvidas com atletas presos e outros constituídos como arguidos, bem como dirigentes.

Isto não preocupa ninguém? Será que tudo vai ficar como está para ser resolvido daqui por dez anos quando houver uma decisão de um tribunal? Espero que neste caso haja um bocadinho mais de celeridade, acima de tudo, a bem da verdade desportiva.

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