Benfica, Sporting e FCPorto numa encruzilhada

Com o final da primeira volta da fase de grupos da Liga dos Campeões a apenas um jogo de distância – o Benfica entra em campo hoje ao final da tarde – a prestação das equipas portuguesas não se pode dizer que esteja a ser brilhante, bem pelo contrário.

Em oito jogos realizados, Benfica, Sporting e FCPorto conseguiram apenas duas vitórias e dois empates contra quatro derrotas. Ou seja, numa visão muito simplista, as equipas nacionais perderam mais vezes do que ganharam e é verdade que ainda faltam três jogos, mas estão mais próximas de avançarem para a fase seguinte da Liga Europa do que para os oitavos de final da liga milionária, o grande objetivo de todas elas. E, por esse motivo, a probabilidade de o futebol português descer de nível no ranking dos clubes da UEFA é, cada vez, mais uma realidade. A não ser que se consiga alterar o rumo aos acontecimentos e na temporada de 2018/2019 apenas o campeão nacional entrará diretamente na fase de grupos da champions, enquanto o vice-campeão começará na terceira pré-eliminatória. Já o terceiro classificado, que agora vai ao play-off de acesso à fase de grupos, será apurado mas para a Liga Europa.

O grande problema é que os grandes clubes do futebol português precisam dos milhões da UEFA para viverem e de estarem na principal competição de clubes a nível mundial para, entre outros objectivos, valorizarem os seus jogadores, pelo que aquilo que poderá vir a acontecer será absolutamente trágico para a viabilidade dos nossos principais emblemas. Sem querer ser muito catastrofista mas, a prazo, estaremos mesmo condenados a ir descendo no ranking, correndo o risco de num prazo mais longo – talvez daqui a dez/quinze anos – podermos olhar para o nosso passado como os húngaros ou até mesmo os holandeses olham para os deles. Para utilizar uma palavra que nos diz muito enquanto povo: com imensa saudade, lembrando os de meia-idade as grandes conquistas do FCPorto de José Mourinho no início do século XXI ou ainda mais longinquamente revendo na RTP Memória, com a ajuda dos mais velhos, as conquistas do Benfica de Eusébio no tempo da televisão a preto e branco.

Curiosamente e a propósito dos prejuízos monumentais apresentados pelo FCPorto, a empresa Doyen Sports, sem nunca referir o nome do clube, através de um comunicado publicado na rede social Twitter, veio ensaiar uma explicação para esse buraco de quase sessenta milhões de euros e dando-nos uma ideia do que poderá ser o futuro próximo do nosso futebol. Diz a empresa sediada em Malta que a proibição dos fundos de investimentos e da possibilidade de terceiros deterem direitos económicos dos jogadores, aliada ao facto de o clube tentar manter os seus melhores jogadores, deu naquele buraco colossal. A prazo e para reduzir custos, os clubes vão cair na real e, sem dinheiro para grandes investimentos, vão ter de apostar mais na formação e, sejamos claros, vão ser obrigados a serem muito menos competitivos nas contratações que vão fazer, perdendo, com isso, muita qualidade. No caso dos dragões será cada vez mais difícil vermos atletas da qualidade de James Rodriguez ou Danilo ou Falcao. É bom que tenhamos a consciência que as formações dos grandes clubes nacionais têm grande qualidade mas será isso suficiente, por si só, para terem equipas competitivas e com força para se imporem na alta-roda do futebol europeu? Tenho as maiores dúvidas para não dizer, de caras, que tenho a certeza de que isso não irá acontecer. Assim sendo, resta ao futebol português, ao nível de clubes, tentar reinventar-se. Qual será o caminho a seguir? Essa é a pergunta de um milhão de dólares e para a qual parece-me não haver uma resposta óbvia. Quem a conseguir encontrar e responder ganhará, sem dúvida, este enorme desafio. E, causa-efeito, muitos milhões de euros.

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