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Despedidos por tudo e por nada

Tenho um amigo que foi um internacional português de grande nível, que jogou na Seleção, em clubes portugueses e em vários no estrangeiro. Apesar de todos lhe reconhecerem capacidades de liderança e qualidade para ser um grande treinador diz que é algo para o qual não se sente nada vocacionado porque é uma profissão de desgaste rápido, que obriga a uma permanente atenção e que não é essa a sua prioridade.

Como o entendo. Porque quando se analisa a liga portuguesa chega-se à conclusão que à entrada para a segunda volta da prova apenas seis dos dezoito técnicos que iniciaram a época ainda estão ao serviço dos seus clubes - doze já rescindiram ou foram despedidos – e percebe-se que esta é uma profissão, no mínimo, instável.

Não me lembro de uma temporada com tantas trocas ao nível do comando técnico das equipas. E quando se tenta perceber o porquê de tanto despedimento/rescisão não se encontra um padrão, o que nos leva a pensar que há, na realidade, em boa verdade, duas razões: por tudo e por nada. 


Para alguns dirigentes será preciso mudar qualquer coisa e não sendo possível despedir a equipa toda – sai demasiado caro - ou mesmo afastar os dirigentes – mais difícil – acabam por cair os treinadores. 

Vamos por partes: Nuno Capucho, Carlos Pinto e Paulo César Gusmão nunca tinham treinado na liga e a falta de experiência acabou por vir ao de cima. Mas Ricardo Soares, Vasco Seabra, Nuno Manta e Daniel Ramos também nunca tinham trabalhado no principal campeonato do futebol português e as coisas até nem têm estado a correr nada mal, então o novo técnico do Marítimo tem mostrado uma qualidade bem acima da média. A falta de experiência não pode ser argumento.

Erwin Sanchez, José Mota, Petit e mesmo Pepa deram mostras, na época passada, que têm qualidade mas os créditos não duraram muito tempo e por isso acabaram por sair. Uns mais cedo. Outros mais tarde. Em relação a Pepa, a prova de que o trabalho que realizou no Feirense, na última época, e já esta temporada, no Moreirense, teve qualidade é que já está de regresso ao batente como técnico do Tondela. A falta de qualidade também não colhe.

Jorge Simão saiu de Chaves para Braga por causa da sua qualidade mas principalmente porque, na capital do Minho, não iam com a cara de José Peseiro, o que não deixa de ser curioso porque a equipa está no terceiro lugar da liga e na luta por uma presença nas meias-finais da taça da liga. Já Manuel Machado, que tantas e tantas alegrias deu aos adeptos do Nacional da Madeira, acabou por sair vergado aos maus resultado da equipa, numa altura em que a disponibilidade financeira dos insulares também não é a que já foi. É a prova provada de que no futebol não há gratidão.

É também por isso que acho graça quando ouço um qualquer dirigente, de um qualquer clube, garantir que o seu treinador é fundamental para o projeto. Um projeto que apenas dura enquanto ele conseguir ganhar, porque quando as coisas dão para o torto acaba por sair. 

Em Portugal é quase impossível um treinador ficar vários anos no mesmo clube quando não ganha. Talvez a passagem de Jorge Jesus pelo Benfica seja a exceção que confirma a regra, mas aí valeu a teimosia de Luís Filipe Vieira quando todos os restantes dirigentes o queriam afastar. 

Por isso não espanta que os treinadores, em Portugal, joguem principalmente para o “pontinho”, ou que os espetáculos sejam muito pouco atrativos, e que entre um jogo da liga se prefira assistir a um da liga espanhola ou inglesa. Eles, os treinadores, melhor do que ninguém, sabem o que lhes acontece se jogarem bem mas não pontuarem. Por isso razão tem o meu amigo ex-internacional português: ser treinador é uma profissão de risco que não compensa os aborrecimentos.

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