Os meninos do dragão

Nesta última semana vi com atenção, até por motivos profissionais, os jogos que o FCPorto fez em Leicester, para a Liga dos Campeões, e na Madeira, com o Nacional, a contar para a liga portuguesa. Como se sabe no primeiro perdeu, frente a um fraquinho campeão inglês e no outro goleou, frente a uma das mais desinteressantes equipas de Manuel Machado de que me recordo. Vistos e analisados os dois desafios que conclusão é que podemos tirar sobre a equipa agora treinada por Nuno Espírito Santo?

É ou não candidata ao título, tal como parecem ser Benfica e Sporting? Ou vai ser um outsider à espera de ver no que vai dar o campeonato para, lá mais para a frente, se o conseguir, assumir-se como um candidato de corpo inteiro? Ou não é candidato a nada mas apenas a fazer o melhor possível?


A verdade é que realizados, até este momento, onze jogos – em todas as competições – apenas por uma vez vi o FCPorto ser uma equipa à imagem do que estávamos habituados, ou seja, madura, personalizada, forte, ambiciosa e capaz de levar tudo à frente. Foi no play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, no estádio Olímpico de Roma, frente à equipa romana. Confesso que ao ver tamanha demonstração de superioridade, mesmo dando de barato que os italianos ajudaram à festa ao provocarem a expulsão de dois dos seus jogadores – não consigo qualificar esta situação de outra forma – os dragões quiseram ganhar, fizeram por isso e ganharam. Simples. 

Após esse jogo fiquei a pensar que depois do que aconteceu na capital italiana não mais iriam parar. Nada mais errado porque passado uns dias – apenas cinco dias – em Alvalade, na partida com o Sporting, tudo aquilo que fizeram de bom durou apenas vinte minutos. E nem vale apena trazer à colação os erros de arbitragem.

Dai para cá, os resultados e as exibições têm oscilado entre o mediano e o razoável, à medida das experiências que o treinador vai fazendo, à procura das melhores soluções para a sua ideia de jogo. A partida com o Vitória de Guimarães foi interessante, com André e Deproitre juntos na frente de ataque. Seguiram-se dois jogos fracos – Copenhaga e Tondela – depois um outro razoável com o Boavista, seguido de outro muito fraco com o Leicester. Nunca uma equipa portuguesa terá tido tantas possibilidades de vencer, em sua casa, o campeão inglês. Por fim a goleada da Madeira, com o Nacional, em que Diogo Jota nas costas de André Silva, com Otávio e Oliver Torres nas alas, voltaram a mostrar-nos uma equipa a praticar um futebol interessante e ambicioso. 

Em boa verdade, parece-me que pode ser esta uma das soluções, sendo que continuam a faltar aos dragões flanqueadores que possam ajudar a desbloquear o jogo, principalmente nas partidas caseiras, mas esses foram quase todos dispensados e, em meu entender, foi um dos pecados principais de quem preparou a temporada 2016/2017 no Dragão.

Sem dinheiro para grandes flores, o mesmo é dizer para grandes aquisições, a necessidade aguçou o engenho que apostou nos miúdos da formação e foi buscar mais outros meninos por empréstimo que vão seguramente ajudar. 

Percebe-se que este FCPorto é uma equipa ainda à procura de um caminho mas parece-me evidente que esse caminho passa pela aposta nestes jovens. Se vai dar certo no imediato, tenho algumas dúvidas, mas já tenho poucas dúvidas que a prazo é a forma correta de resolver o problema, principalmente numa altura em que o dinheiro passou a ser um bem demasiado raro para aquelas bandas. 

André Silva, Otávio, Diogo Jota, Óliver Torres e Rúben Neves – os meninos do Dragão - serão o futuro do FCPorto com todos os riscos que isso implica e é isso que terá de ser explicado aos adeptos que há três anos não sabem o que é ganhar, depois de já terem experimentado de tudo e de terem visto o seu clube endividar-se como se não houvesse amanhã.

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