Os trabalhos de Jesus

Quando saiu da capital espanhola, apesar da derrota frente ao Real Madrid, o Sporting estava claramente em alta. A exibição leonina, que por alguns momentos chegou a banalizar o gigante espanhol, deixava no ar a ideia de que a partir daquela altura o céu seria o limite e que a liga portuguesa seria um mero passeio, tal foi a qualidade do futebol apresentado no Santiago Bernabéu.

O problema é que os leões, passados apenas alguns dias, teriam um choque violento com a realidade ao saírem derrotados de Vila do Conde e, mais do que a derrota, foi a facilidade com que tal aconteceu. Recordo que nesse jogo Jorge Jesus fez muitas alterações na equipa titular, alterações que não resultaram e, coincidência ou não, a partir desse momento foram mais as escorregadelas do que os sucessos e, em minha opinião, pelas razões que explicarei a seguir.


É verdade que com as saídas de João Mário e Slimani - dois dos principais elementos da equipa da época passada - a que se juntou a chegada tardia de alguns dos reforços - houve que esperar primeiro pela entrada de capital para depois poder investir - a preparação da temporada começou algo atrasada. Mas se isso não foi um problema imediato, agora começa a ser, principalmente porque a maior parte dos reforços está a demorar muito tempo a adaptar-se a esta nova realidade, sendo que alguns deles ou jogaram muito pouco - Douglas e Castaignos - ou não jogaram de todo, como é o caso do argentino Meli.
 
Aos problemas de adaptação de alguns dos reforços - apenas Bas Dost tem jogado e marcado golos com regularidade - juntam-se também as permanentes alterações a que a equipa tem sido sujeita por Jorge Jesus. As laterais têm mudado em quase todos os jogos, com destaque para o lado esquerdo. É público que JJ queria o argentino Insúa e que não foi possível trazê-lo, pelo que as experiências têm sido várias. Já jogaram Jefferson e Bruno César. Agora tem alinhado Zeegelar, que já começa a ser uma espécie de patinho feio dos adeptos leoninos. No meio campo também ainda não ser percebeu quem é o segundo avançado da equipa. Brian Ruiz, Bruno César, Alan Ruiz e Markovic têm sido experiências realizadas, umas com mais sucesso do que outras. Ou seja, tem faltado estabilidade à equipa que parece acusar todas estas alterações. 

Por fim, e para ajudar à festa, apareceu a lesão de Adrien Silva. Já se desconfiava mas percebe-se agora a razão porque o treinador do Sporting nem dormia quando nas últimas horas do mercado o Leicester avançou com uma proposta para o levar para Inglaterra. Já se desconfiava mas percebe-se agora que o médio é uma pedra absolutamente fundamental na manobra da equipa. Ele é o cimento que liga tudo. É ele que dá a intensidade e a dinâmica de que JJ tanto gosta. A sua falta no jogo com o Tondela notou-se tanto que ninguém ousou sequer usar a frase batida de que só faz falta quem está, até porque Elias, sendo um jogador diferente, nem por sombras o fez esquecer. Bem pelo contrário.

Chegados a este ponto, há duas ideias fundamentais que importam reter: ninguém perde campeonatos ou sai da luta pelo título à oitava jornada. Por outro lado e apesar de tudo, parece-me haver, no plantel do Sporting, gente com qualidade mais do que suficiente para levar a nau a bom porto. Agora é preciso que JJ volte a dar estabilidade à equipa, fazendo as suas opções, é certo, mas que não altere tanta coisa todas as semanas. Que aposte, por exemplo, em João Pereira e Jefferson para as laterais mas que os deixem consolidar processos. Que meta Bryan Ruiz ou Bruno César como segundo avançado mas que lhes dê jogos nessa posição. E, já agora, que Bruno Carvalho não faça mais conferências de imprensa à horas de jogos fundamentais para o Sporting como aconteceu antes do encontro com o Borussia de Dortmund. 

Por fim, que JJ seja mais comedido nas suas declarações públicas: é que tudo o que disser em público poderá ser usado contra ele no local onde isso faz mais mossa que é no balneário.

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