Rui Vitória: uma renovação normal

Foi sem surpresa que os adeptos do Benfica receberam a notícia da renovação de contrato de Rui Vitória. Talvez o único dado verdadeiramente surpreendente tenha sido a duração do novo vínculo, já que o técnico de Vila Franca de Xira, com contrato até 2018, vai estar na Luz, se o contrato for cumprido até ao fim, pelo menos até 2020 ou seja durante todo o mandato de Luís Filipe Vieira.

E, pelo que conta a imprensa desta quarta-feira, com condições salariais bem melhoradas. Tudo isto, em boa verdade, faz todo o sentido já que o presidente do Benfica é um adepto da estabilidade – basta recordar o que se passou com Jorge Jesus que esteve na Luz durante seis temporadas – e nada como dar essa estabilidade a quem comanda a equipa técnica do futebol encarnado como reconhecimento pelo trabalho já realizado e a realizar.

Rui Vitória chegou ao Benfica em junho de 2015 para substituir um técnico vencedor. Vinha do Vitória de Guimarães e foi, como é natural, olhado de soslaio. Para mais o início de temporada não foi nada fácil com uma digressão às Américas em que tudo correu mal.

Para ajudar à festa o anterior técnico dos encarnados arrancou de “prego a fundo” e ganhou a Supertaça ao seu anterior clube, bem como o primeiro duelo entre ambos, na Luz e para o campeonato. Para muitos benfiquistas a saída do novo treinador seria uma questão de tempo. Lembro-me bem do que muitos dos chamados “paineleiros” ligados ao clube escreveram e disseram.

Mais uma vez Luís Filipe Vieira soube esperar. Soube ser paciente. No futebol, como em tudo na vida, as coisas são como acabam e não como começam. Bem sei que por vezes é dificil resistir à pressão do exterior mas é nestas ocasiões que se faz a distrinça entre os verdadeiros lideres e os outros.

O final da história é conhecido. Rui Vitória foi campeão e ganhou a Taça da Liga. Na Liga dos Campeões chegou aos quartos de final da competição, talvez o patamar máximo a que uma equipa portuguesa pode almejar nesta fase da história do nosso futebol.

A juntar ao sucesso desportivo há ainda o sucesso financeiro com a venda de jogadores – ao contrário do que muitos acham são situações compativeis e absolutamente necessárias – Renato Sanches e Nico Gaitan renderam cerca de sessenta milhões de euros, a que se juntou agora a saída de Gonçalo Guedes por mais trinta milhões e houve ainda, em definitivo, a aposta na academia de formação do Seixal.

Esta temporada, até agora, as coisas estão a correr pelo melhor, apesar da enorme onda de lesões que assolou a equipa. Lembro que isto é como acaba e não como começa mas, para já, o Benfica lidera o campeonato, está nas meias-finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga e prepara-se para jogar os oitavos de final da liga dos Campeões.

Em relação aos jogadores há vários na calha para sairem no final da temporada como Lindelof e Nelson Semedo, por exemplo, jogadores formados no Seixal, a que se podem juntar Ederson ou Pizzi que ainda esta semana renovaram os seus contratos. Não será tudo trabalho de Rui Vitória mas, sem dúvida, que haverá aqui muito mérito do treinador português.

Por isso fez muito bem Luís Filipe Vieira em aumentar o salário e a ligação contratual ao seu treinador. Em Portugal não estamos muito habituados a isto, é certo, mas é um ato de gestão perfeitamente normal. Também entendo que Rui Vitória fez muito bem em aceitar esta proposta, no entanto, estou em crer que se continuar nesta senda vitoriosa chegará uma altura em que ele próprio vai ter necessidade de sair do Benfica e de Portugal para abraçar outros projectos com mais dinheiro, mesmo que com objectivos menos estimulantes.

Basta olhar para a liga inglesa e perceber que depois de José Mourinho, chegou agora Marco Silva e há cada vez mais a noção de que Carlos Carvalhal será apenas uma questão de tempo até subir de patamar. É que os treinadores portugueses que parecem estar na moda, têm mesmo muita qualidade. Tal como Rui Vitória.

pub