O futebol português tem uma capacidade notável para nos surpreender e, como é fácil de perceber, não estou a falar dos grandes jogos que, por cá, também existem – o clássico do Dragão foi um belo espetáculo – ou dos grandes golos que todas as semanas são marcados – se não viram procurem e vejam os golos de Renato Santos do Boavista frente ao Rio Ave ou de Pedrinho do Paços de Ferreira na partida com o Desportivo de Chaves – ou das defesas sensacionais – absolutamente de cortar a respiração a de Joel Pereira do Belenenses no jogo com o Feirense.
Estou mesmo a referir-me a mais uma cena fora das quatro linhas mas na zona dos balneários e que terá envolvido, segundo as notícias veiculadas por ambos os clubes, os presidentes do Sporting e do Arouca num bate boca que só não terá chegado a vias de facto porque a polícia apareceu a tempo de impedir o pior.
Não há temporada nenhuma em que os adeptos do futebol não sejam entretidos com este tipo de situações e não há ninguém que possa atirar a primeira pedra porque todos os clubes – uns maiores que outros – têm os seus rabos-de-palha.
Umas vezes são os túneis, outras os corredores de acesso ao relvado, outras os balneários, outras vezes as tribunas vips, as imediações dos estádios, os estacionamentos, enfim há de tudo para todos os gostos. Eu até recomendava que fossem distribuídos a todos os adeptos cópias dos regulamentos de disciplina – porque não como suplemento a um jornal? – Porque nestes últimos dias as penalizações a serem aplicadas aos infratores passou a ser um assunto recorrente nas conversas de café e nada como conhecer a lei para a discussão ser mais intensa e interessante.
Para quem segue o futebol europeu com alguma atenção estes casos só acontecem em Portugal. É uma especialidade nossa! Nos grandes campeonatos da Europa – Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Itália e Holanda – alguma vez os presidentes dos clubes vão para o banco? Não vão! Nunca. Recebem os seus homólogos e mandam os seus funcionários – pagos para isso – desempenharem essa função.
É assim que as coisas funcionam. Por cá vão para o banco para quê? Para pressionar os árbitros? Para impor respeito aos seus jogadores? Aos jogadores das outras equipas? Enfim já ouvi tantas explicações que só me apetece encolher os ombros e sorrir. Não faz qualquer sentido.
O futebol é uma atividade profissional. Pelo menos é entendida assim. Uma atividade que devia ser “vendida” até à inconsciência com os jogadores e os treinadores a serem as figuras principais. Devia mas não é assim que as coisas se passam. Os dirigentes é que são importantes.
Por cá os jogadores só respondem às televisões oficiais dos clubes e os treinadores fazem o favor de ir a umas conferências de imprensa antes e depois dos jogos e mesmo assim... Os diretores de comunicação servem para controlar a informação e não para a tornar mais escorreita e clara. Há quanto tempo não ouvimos ou vemos um jogador ou treinador de um grande dar uma entrevista? Há muito tempo e olhem que não é por falta de pedidos. Depois admiram-se que os famosos programas de segunda-feira à noite tenham tantos clientes, é que com tantos casos, assunto é coisa que não falta e o nível é o mesmo da maioria dos protagonistas do futebol ou seja de grande nível.