Uma fábrica de produzir talentos

A formação é uma das maiores mais-valias do futebol português. Cristiano Ronaldo, Figo e Eusébio - enormes jogadores de três gerações diferentes e que são/foram dos melhores do mundo – são apenas os principais rostos de uma máquina que produz talento há dezenas e dezenas de anos e que nos últimos dez/doze anos conseguiu industrializar essa produção com a criação das academias de formação dos principais clubes nacional e, já este ano, com a inauguração da “Cidade do Futebol” no âmbito da Federação Portuguesa de Futebol. Isto para não falar das equipas B que vieram dar competição a esses talentos na sua fase final de produção.

Numa altura em que Benfica e Sporting já apresentaram contas – os encarnados com cerca de vinte milhões de euros de lucro – facilmente se percebe a importância que tem, nesses valores, a venda de jogadores. Ou seja, é uma rubrica dos seus orçamentos sem a qual os clubes nacionais já não conseguem viver.

Se analisarmos, apenas, a equipa que se sagrou campeã europeia, em julho passado, em Paris, chegamos facilmente à conclusão de que o futebol português marca presença nas principais ligas e joga pelos principais clubes mundiais: André Gomes é do Barcelona; João Mário do Inter de Milão; Guerreiro do Borussia de Dortmund; Renato Sanches do Bayern de Munique, Cédric e José Fonte do Southampton e há ainda os consagrados Cristiano Ronaldo e Pepe do Real Madrid; Nani do Valência e Quaresma do Besiktas. Depois há aqueles que por uma ou outra razão nem foram ao Euro como os casos de Bernardo Silva do Mónaco ou João Cancelo do Valência. Gente de grande qualidade a que se juntam outros ainda em pousio no futebol nacional ou, se quiserem, a prepararem-se para saírem, mais dia menos dia, como Gonçalo Guedes do Benfica ou André Silva do FCPorto ou ainda Gelson Martins do Sporting.

O futebol português até dá para que aconteçam casos como o de André Horta que foi dispensado da formação do Benfica por não ter qualidade suficiente para regressar, depois de ter passado pelo Vitória de Setúbal, uns anos depois, pela porta grande por onde vai seguramente sair um destes dias para um dos grandes clubes europeus. E há ainda tanta gente de qualidade noutros lados que Portugal vai aos Jogos Olímpicos com uma equipa C e fica entre os oito melhores!

Mas o que é que o jogador português tem assim de tão especial? Não sei. Não tenho uma resposta objetiva para esta questão. Mas que tem alguma coisa lá isso tem. E tem também dirigentes e treinadores de muita qualidade que sabem como os preparar e potenciar, porque se isso não acontecesse os resultados não seriam estes. Gente boa dos clubes mais modestos aos clubes maiores. É uma máquina bem oleada que produz e vai continuar a produzir jogadores. Assim os treinadores dos clubes da liga, com destaque para os grandes, continuem a apostar nesses jogadores como tem acontecido. Agradecem os clubes e acima de tudo o futebol português que voltou a ter futuro, o que me parecia não acontecer aqui há uns oito/dez anos depois da passagem de um treinador resultadista pelo nosso futebol, pouco interessado no futuro e apenas interessado em que a sua equipa ganhasse. E o burro sou eu?

PS: Na Liga dos Campeões, o FCPorto jogou pouco e perdeu com um campeão inglês muito fraquinho. Já o Sporting cumpriu, sem deslumbrar, frente a um campeão polaco que nem devia andar nestas andanças. Com estes resultados será cada vez mais difícil manter as três equipas da Champions em 2018/2019. Era bom que alguém pensasse nisto!

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