A Televisão morreu na Islândia (parte II)

Encontrei o Pedro na Islândia. O Pedro fez a Liberdade cumprir-se em novo: E escolheu o que é.

Como o mundo é lugar pequeno, encontrei o Pedro, filho de pessoas que vivem na mesma terra onde nasci, rapaz magro e energético que andou no Infantário onde a minha mãe trabalhou. Encontrei o Pedro na Islândia, na rodagem do filme “O Sentido da Vida” de Miguel Gonçalves Mendes. É um dos elementos da equipa, anda há mais de dois anos em viagem, por tantos países, de câmara voadora na mão e de uma perspicácia de falcão.

O Pedro tem pouco mais de 20 anos, entrou para a escola do cinema e nunca mais a viagem terminou. Regressar a casa já não é uma consequência. Por estes dias, a casa é mais uma circunstância do que uma certeza. O caminho é a sua única segurança.

E sim, assim se desenha a geração do Pedro. Sempre no caminho, no ritmo da rotação de um planeta pequeno. A habitação já não é uma terra nem sequer uma casa. É o lugar onde todos os dias o Pedro se encontra a fazer o que gosta, a idealizar as imagens perfeitas e a contar a história que acha melhor. Para a maioria das pessoas, regressar a casa é reconfortante. Por isso, olhar para a vida do Pedro é tão assustador como também é magnífico. Esta é uma geração de coragens e desafios, em que o único medo que se lhes cola é o de parar. E parar, não apenas fisicamente: o parar de pensar.

O Pedro e a toda equipa de rodagem (o Edu, o Vitor, o Daniel e claro, o Miguel) gosta de pensar e dizer o que pensa. Há nas propostas de vida de toda esta geração várias respostas à sociedade enquistada onde vivemos. E concretiza-as. Andar dois anos de mochila às costas e saber no minuto certo que o Nicolau Breyner morreu, é exemplar. Digam-me que é apenas porque a tecnologia o permite. Não. É mais. É querer saber do mundo, ao contrário do que muitas vezes esta geração é acusada, é interessar-se pelas mudanças e pelas pessoas, é ter um gesto de afeto por um homem como o Nicolau que morreu sózinho em casa e fazer disso um momento importante daquele dia: para todos nós.

O Pedro é uma esperança. É um homem que quer dar mais ao mundo, fazer da sua criatividade um contributo sério e efetivo. O Pedro tem pouco mais de vinte anos e aparece neste crónica como oráculo de um futuro melhor (maldita mania de acreditar na humanidade). Ao Pedro, juntam-se tantos. E ainda bem.

A televisão morreu na Islândia? Só se não acordarmos para esta geração que precisa e anseia melhores mundos. E isso, é serviço público.


Documentário “O Sentido da Vida”

Realização de Miguel Gonçalves Mendes

Produção da JumpCut, O2 e El Deseo

Apoio RTP

Estreia mundial em 2018

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