A visita à Grande Guerra

Na semana em que se assinalam os 100 anos da entrada de Portugal na I Guerra Mundial, há mais para além dos militares corajosos, da ingenuidade da República e do frio que a morte trouxe ao início do século XX. Há também a pintura magnífica de um mestre português, que se dedicou a fazer da sua arte o retrato da tragédia.

Adriano de Sousa Lopes nasceu em Vidigal, Leiria e fez da sua formação artística uma viagem imensa pela Europa, reconhecendo-se em traços impressionistas, que vieram a integrar o seu estilo. Mas Mestre Sousa Lopes tem mais do que obras emblemáticas, registos de emoções dos homens e das mulheres, navios e terras.

O artista foi também capitão do Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra (1914-18). Esteve nas trincheiras, partilhou latas e tiros, lama e frio, com os soldados mandados para a frente horror.

Até à primeira exposição monográfica de Adriano de Sousa Lopes, que aconteceu no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado em Lisboa, em junho de 2015, nada sabia deste artista. A visita à sua obra, trouxe testemunho pessoal e registo, quase jornalístico, numas gravuras a água-forte, capazes de movimentos e escuridões, olhos e contínuas explosões.

Esta semana, por se assinalar esta guerra, já que a História nos faz crentes de melhorias do mundo (ingénua teimosia de quem ainda não morreu), estive no Museu Militar, em Lisboa para dar a ver as Salas da Grande Guerra. Duas casas de memórias bélicas, mas acima de tudo de recordações da dor. Por lá, estão maravilhosas telas, painéis gigantes de Mestre Sousa Lopes, que nos mostram a guerra, sim e depois o esplendor do retrato. 


Ali, naquelas duas salas, para além da técnica artística e talento pessoal, há essa coragem. De homens que partem e mulheres que ficam, de feridos e desprotegidos, salvadores e perdidos. A coragem que Sousa Lopes pinta porque a viveu, porque andou de botas molhadas e cara suja, de fome nas costelas e gritos de horror.

Quando a Guerra acaba e o pintor regressa com a expedição portuguesa faz as imponentes pinturas para as salas do Museu Militar. O espaço é muitas vezes esquecido, nem sempre lembrado como um dos mais emblemáticos museus da capital portuguesa. Ainda que pareça, não é o bélico o recorte deste museu. Para além do edifício lindo, as armas e armaduras são feitas de História. E depois, há o Mestre Sousa Lopes e outros tantos como Delfim Maia e mais que se podem descobrir.

Pacifista por natureza, em convicção total, digo: é Museu. Lindo.

Museu Militar de Lisboa
Lisboa, Largo do Museu Artilharia
Terça a sexta das 10h00 às 19h00
Sábado e domingo das 10h00 às 12h30 e das 13h30 às 17h00

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