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Angolanos em Lisboa dão cartão vermelho à violência policial em Angola

por Lusa

Cerca de três dezenas de jovens angolanos residentes em Portugal apresentaram hoje, frente ao consulado de Angola em Lisboa, um cartão vermelho à brutalidade policial naquele país africano, que afirmam se ter agravado com a pandemia de covid-19.

Munidos de cartazes e apitos, os jovens concentraram-se pouco depois das 10:00 frente ao consulado, em Alcântara, respondendo assim a um convite feito através das redes sociais, que nos últimos tempos tem sido o principal meio de comunicação e também de denúncia do que classificam de "crime sem castigo".

Desde o início da pandemia, mais de uma dezena de pessoas perderam a vida em Angola na sequência de intervenções policiais para obrigar ao cumprimento dos decretos presidenciais com as medidas que vigoraram no estado de emergência e agora na situação de calamidade pública, nomeadamente o uso de máscara facial.

"Quem é que chamamos, quando a polícia mata?", "Esfomeados, doentes, frágeis e inseguros" ou "Parem de nos matar" foram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes empunhados por estes jovens que, ordeiramente, começaram o protesto a entoar o Hino Nacional, gritando em uníssono "Um só povo, uma só nação!".

A manifestação pacífica prosseguiu com um minuto de silêncio pelas "vítimas da brutalidade policial em Angola", com os jovens de joelhos e o punho cerrado, um dos símbolos da resistência e solidariedade.

Mais estridentes e com o apoio de sonoros apitos, os manifestantes empunharam cartões vermelhos, que apresentaram à violência, à ditadura, à majoração, à brutalidade, ao nepotismo, ao tráfico de influências, ao crime de colarinho branco, à impunidade, à fome e à doença.

Ao comando do protesto, Emerson Sousa, coordenador do Bloco Liberal, disse à agência Lusa, que está em curso uma recolha de assinaturas em Angola com vista à criação de uma comissão de inquérito à brutalidade policial naquele país.

Os peticionários querem ver o assunto ser devidamente tratado na "casa das leis" e que os responsáveis sejam punidos.

Em causa está, segundo os manifestantes, um agravamento da violência policial contra os cidadãos que não usam máscaras, mesmo na rua, uma obrigação em Angola no âmbito das medidas de proteção contra a covid-19.

Para Emerson Sousa, os agressores e a sua tutela têm "uma agenda própria" por trás desta violência, como alegadamente demonstra o adiamento das eleições autárquicas, "com a desculpa da covid-19".

"O uso da força é sempre a arma dos reticentes à mudança", disse.

Erica Tavares, outra jovem angolana envolvida na organização desta manifestação, sublinhou o simbolismo do protesto e referiu que é a faixa etária mais jovem que está mais atenta à violência em Angola e menos disposta a aceitá-la.

Entre as várias denúncias de casos de violência policial contra transeuntes sem máscara, gerou fortes críticas a morte do médico Sílvio Dala após ser interpelado pela polícia por não usar mascara facial quando se encontrava sozinho no carro.

"Temos assistido com preocupação ao aumento da violência policial. É certo que há muito medo da covid-19, e que as pessoas nem sempre cumprem as regras, mas a polícia tem tido uma atuação muito violenta", disse.

Leonardo Botelho juntou-se ao protesto "contra a brutalidade policial" que, na sua opinião, tem aumentado com a pandemia de covid-19.

O jovem considera "muito importante" toda esta mobilização contra a violência e principalmente a promovida pelos mais jovens.

"Mesmo longe, a dor que sentimos é a dor do povo de Angola", afirmou.

Desde o início da pandemia de covid-19, Angola registou 134 mortos e 3.388 infeções. No continente africano, o novo coronavírus já causou 32.625 mortos e infetou 1.353.283 pessoas.

O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito em 14 de fevereiro e a Nigéria foi o primeiro país da África Subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 921.097 mortos e mais de 28,8 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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