Adalberto Campos Fernandes, médico, professor na Escola Superior de Saúde Pública, antigo diretor do Hospital de Santa Maria em Lisboa, lamenta a discussão sobre o racionamento de medicamentos, sobretudo numa fase em que Portugal atravessa uma crise financeira e defende que tal devia acontecer no meio científico, técnico e académico e não na praça pública. Alerta para o facto que é preciso que os critérios de seleção de medicamentos sejam equitativos e baseados na ciência, na evidência clínica em parceria com os médicos e não contra os médicos e contra os doentes.
Adalberto Campos Fernandes alerta para a ligação direta que os doentes e os familiares dos doentes farão entre a fragilidade económica do país e os cortes no sistema nacional de saúde.
Ontem, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) emitiu um parecer em que defende que o Ministério da Saúde “pode e deve racionar” o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, Sida e doenças reumáticas.
Em entrevista à Antena 1 o presidente do CNECV, Miguel Oliveira da Silva, considera que “é uma luta contra o desperdício e a ineficiência, que é enorme em Saúde”. O parecer abrange ainda exames e meios complementares de diagnóstico como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas.
O documento, a que a Antena1 teve acesso, revela que o CNECV defende que o racionamento de tratamentos é legítimo e deve ser feito depois de ouvidos os médicos, os gestores e os doentes. Tudo depende do custo dos tratamentos e da avaliação de se prolongam a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.
(com Elsa Ferreira)