Antigo diretor do Hospital de Santa Maria critica utilização da palavra racionamento

por Nuno Rodrigues

Adalberto Campos Fernandes, médico, professor na Escola Superior de Saúde Pública, antigo diretor do Hospital de Santa Maria em Lisboa, lamenta a discussão sobre o racionamento de medicamentos, sobretudo numa fase em que Portugal atravessa uma crise financeira e defende que tal devia acontecer no meio científico, técnico e académico e não na praça pública. Alerta para o facto que é preciso que os critérios de seleção de medicamentos sejam equitativos e baseados na ciência, na evidência clínica em parceria com os médicos e não contra os médicos e contra os doentes.

Critica a forma como o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida foi apresentado assinalando falta de prudência no discurso, salientando que para os economistas da saúde racionamento é uma palavra benigna mas para os doentes e para os médicos é algo muito diferente, e esclarece, "nada deve violar a confiança que os doentes têm nos médicos e no sistema onde eles trabalham" deixando ainda uma questão: "com este tipo de revelação quem é que diz que tem mais recursos financeiros não tem mais opções?".

Adalberto Campos Fernandes alerta para a ligação direta que os doentes e os familiares dos doentes farão entre a fragilidade económica do país e os cortes no sistema nacional de saúde.

Ontem, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) emitiu um parecer em que defende que o Ministério da Saúde “pode e deve racionar” o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, Sida e doenças reumáticas.

Em entrevista à Antena 1 o presidente do CNECV, Miguel Oliveira da Silva, considera que “é uma luta contra o desperdício e a ineficiência, que é enorme em Saúde”. O parecer abrange ainda exames e meios complementares de diagnóstico como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas.

O documento, a que a Antena1 teve acesso, revela que o CNECV defende que o racionamento de tratamentos é legítimo e deve ser feito depois de ouvidos os médicos, os gestores e os doentes. Tudo depende do custo dos tratamentos e da avaliação de se prolongam a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.


(com Elsa Ferreira)


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