Bloco de Esquerda exige cancelamento de concurso do Governo para plantação de eucaliptos

por Sandra Salvado - RTP
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O deputado bloquista, Pedro Soares, pediu esta sexta-feira o cancelamento de um programa de fundos europeus com uma dotação orçamental no valor de nove milhões de euros para promoção de eucaliptos. O documento data de 9 de junho e define a abertura de um concurso para investimento em zonas consideradas prioritárias, entre as quais, os concelhos mais afetados pelos incêndios desta semana.

Pedro Soares denuncia e exige o cancelamento imediato do concurso que promove a plantação de eucaliptos, um programa "contraditório" com os diplomas que estão em análise no Parlamento e que pretendem o controlo desta espécie.

“Pensamos que é incompreensível que, quando se criou um consenso no país sobre a necessidade de ordenamento da floresta, sobre a necessidade de controle da plantação de eucalipto, que o Governo insista no financiamento exclusivo desta espécie”, refiriu Pedro Soares aos jornalistas.

“Do nosso ponto de vista é contraditório que haja diplomas a serem analisados na Comissão de Agricultura, no processo do pacote florestal, que pretenda o controlo dos eucaliptos e, ao mesmo tempo, o Plano de Desenvolvimento Rural 2020, financia em exclusivo, no valor de nove milhões de euros a plantação de eucaliptos em áreas de grande risco de incêndio florestal”.

"Bomba explosiva difícil de controlar"
Por isso, o bloquista considera que este concurso deve ser suspenso. “Não somos contra apoios à florestação. Eles não podem é ser canalizados em exclusivo para o eucalipto, têm de privilegiar, isso sim, as espécies autóctones, com resistência ao fogo, e não ao eucalipto que juntamente com o pinheiro bravo constituem uma bomba explosiva muito difícil de controlar em caso de incêndio.”

No documento do Governo, datado de 9 de junho, pode ler-se que “a tipologia de intervenção a apoiar diz respeito a investimento ao nível da recuperação de povoamento de Eucalyptus globulus em subprodução e ações associadas, através da rearborização com a mesma espécie por forma à obtenção de povoamentos mais produtivos”.
As Zonas de Intervenção Florestal
O mesmo documento enumera ainda Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), para onde deverão ser considerados os investimentos segundo uma hierarquia de prioridade. Nos concelhos elegíveis na primeira prioridade estão, entre outros, Castanheira de Pêra, Góis, Pampilhosa da Serra e Pedrógão Grande, quatro dos concelhos mais afetados pelos incêndios.



O Bloco de Esquerda explica ainda que a espécie Eucalyptus globulus é a mais plantada em Portugal, sendo “promovida pela indústria de celulose devido à sua capacidade de sobrevivência e competição relativamente a outras espécies”.

E acrescentam: “Esta espécie aguenta condições particularmente adversas e tem uma enorme capacidade de sobreviver e proliferar incêndios. As copas contêm material explosivo que, quando libertado pelo fogo, pode viajar quilómetros e propagar o incêndio. Esta espécie é também particularmente inimiga de diversidade florestal, uma vez que absorve nutrientes mais rapidamente do que as restantes espécies, queimando tudo à sua volta”.
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