Bombeiros em protesto reportam metade das ocorrências

por RTP
“O presidente da autoridade assume, que neste momento, está completamente garantida a segurança dos portugueses” Lusa

O presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil afirma que estão a ser reportadas pelos bombeiros metade das ocorrências. Mourato Nunes garante que a segurança dos cidadãos não está comprometida. Por sua vez, a Liga dos Bombeiros Portugueses ameaça endurecer o protesto contra o Governo.

“Relativamente a ocorrências que habitualmente vamos tendo, poderemos dizer que teremos menos 50 por cento reportadas do que habitualmente”, afirmou Mourato Nunes aos jornalistas.

“O presidente da autoridade assume, que neste momento, está completamente garantida a segurança dos portugueses”.

“Num cenário crítico, todos chegaremos à frente e todos estaremos presentes. Não tenho qualquer dúvida disso. Não quero sequer acreditar que isso não iria acontecer”, frisou Mourato Nunes.
Associação que representa voluntários pede reunião
A Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários (APBV) pediu uma reunião ao ministro da Administração Interna, frisando que os bombeiros nunca foram ouvidos por Eduardo Cabrita e que entre a classe existe “um desagrado em larga escala”. A APBV representa cerca de quatro mil bombeiros voluntários.

Segundo o vice-presidente da APVB, João Marques, o pedido surge após o ministro Eduardo Cabrita ter afirmado que vai falar diretamente com os bombeiros para a situação gerada em torno da reforma da Proteção Civil e sustentou que a associação deve ser “ouvida com carácter de urgência para apresentar os seus contributos no reconhecimento e valorização da classe”.

João Marques sublinhou que a APBV "nunca foi ouvida por este ministro" no âmbito da nova reforma, frisando que o "diálogo tem de ser feito" com todas as estruturas e que "o Governo não está a ser leal com os bombeiros".

O vice-presidente da APBV disse também que a associação não contesta a decisão da Liga dos Bombeiros Portugueses de suspender toda a informação operacional aos Comandos Distritais de Operações de Socorro, apesar de não estar envolvida nesta medida.

Segundo João Marques, os bombeiros voluntários atingiram uma situação de "rutura" e existe "um desagrado em larga escala".

A Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários considerou ainda que devem ser também colocadas como prioridades medidas "concretas que valorizem, reconheçam e incentivam ao voluntariado" nos corpos dos bombeiros.
Bombeiros prometem endurecer luta
A Liga dos Bombeiros Portugueses ameaça endurecer o protesto contra o Governo. Os bombeiros não estão a comunicar as informações operacionais à Autoridade Nacional de Proteção Civil. O Executivo afirma que o boicote é ilegal e irresponsável.

Em causa estão as propostas aprovadas pelo Governo em 25 de outubro na área da Proteção Civil, com a maior contestação centrada nas alterações à lei orgânica da Autoridade Nacional de Emergências e Proteção Civil, futuro nome da atual ANPC, reivindicando a LBP uma direção nacional de bombeiros "autónoma independente e com orçamento próprio", um comando autónomo de bombeiros e o cartão social do bombeiro.
No sábado, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, anunciou que os bombeiros deixavam de participar na estrutura da Autoridade Nacional de Proteção Civil, o que motivou uma reação acusatória do ministro da tutela, Eduardo Cabrita, que classificou a decisão como “absolutamente irresponsável”.

Todavia, Marta Soares assegurou que esta atitude dos bombeiros não porá em causa a segurança e o socorro aos portugueses, garantindo que estes continuarão a funcionar "exatamente na mesma".

Marta Soares afirmou que "é tempo de dizer basta" e que "nunca mais" os bombeiros portugueses vão "aguentar tudo o que os vários governos têm vindo a fazer", em particular este, sublinhando que "ainda está por nascer um primeiro-ministro" que ponha em causa "a honra e dignidade bombeiros portugueses".

Segundo o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, se o Governo não recuar neste conjunto de diplomas e não ouvir a Liga, esta "radicalizará" as suas posições.


Numa reação ao anúncio do Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, acusou a liga de ser “absolutamente irresponsável” por poder colocar em causa a segurança das pessoas ao abandonar a ANPC.

Para Eduardo Cabrita, é “absolutamente irresponsável que estruturas que integram a ANPC não reportem ao sistema, já que põe em causa a coordenação de meios”.

O ministro recordou que “é ilegal a não comunicação de reporte de ocorrências às estruturas de Proteção Civil”.

Domingo, Jaime Marta Soares afirmou, numa entrevista à RTP3, que o ministro incorre num crime de ofensa, por chamar irresponsáveis aos bombeiros e acusa-o de estar a lançar o pânico.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses acusou a tutela de não ceder um milímetro nas propostas de estrutura para a Proteção Civil, ao contrário do que o ministro da Administração Interna ontem afirmou, ao dizer estar aberto ao diálogo.


Jaime Marta Soares ameaça endurecer a luta, garantindo que nunca vão pôr em causa o socorro às populações.  No entanto, assegura que não fecha a porta ao diálogo com o Governo: “Os bombeiros portugueses não gostam de viver em conflito, ninguém se sente bem com o conflito. Os bombeiros sempre estiveram abertos ao diálogo e as negociações, mas têm de ser diálogo e negociações sérios, responsáveis”.

A Liga dos Bombeiros Portugueses tem, no total, 470 associados, distribuídos por corporações de voluntários (435), municipais (19), privativos (9), batalhão de sapadores bombeiros (1), companhias de sapadores bombeiros (5) e regimento de sapadores bombeiros (1) distribuídos por todos os distritos do Continente e Ilhas.
Apelos ao diálogo
O braço de ferro entre os bombeiros e o Governo levou a que o PSD, CDS-PP, Bloco de Esquerda, PCP e o Presidente da República a lançar vários apelos ao diálogo.

No domingo, o Presidente da República apelou ao fim do conflito entre a Liga dos Bombeiros e Governo, para que todos os intervenientes evitem afirmações públicas que dificultem o diálogo neste “domínio muito sensível” da Proteção Civil.

Marcelo Rebelo de Sousa apelou a “todos os intervenientes no sentido de evitarem afirmações públicas que tornem mais difícil o diálogo e o entendimento num domínio muito sensível para os portugueses como é o da Proteção Civil e, mais em geral, o da sua segurança”.

Também a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que é preciso haver “apoio direto e diálogo concreto”.

“Fechar portas ao diálogo nunca é maneira de resolver o assunto. As corporações de bombeiros e as associações humanitárias de bombeiros são essenciais no país e, portanto, eu julgo que apoio direto e diálogo concreto é o que pode resolver a situação”, acrescentou Catarina Martins.


Já o secretário-geral do PCP afirmou não entender “a resistência” do Governo à pretensão dos bombeiros de participarem na coordenação da Proteção Civil.

“Eu não entendo sinceramente essa resistência, essa contradição. Naturalmente, se existem diversas entidades que participam no sistema de Proteção Civil, os bombeiros, por maioria de razões, devem lá estar representados”, frisou Jerónimo de Sousa.

Esta segunda-feira, o CDS-PP anunciou que vai pedir a audição, no Parlamento, do ministro da Administração Interna, Liga dos Bombeiros e Autoridade Nacional da Proteção Civil para tentar esclarecer o conflito entre os bombeiros e Governo. O ministro da Administração Interna tem já prevista uma audição regimental, a 8 de janeiro de 2019, na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Assunção Cristas, líder do CDS-PP, considerou que o diferendo entre o Governo e os bombeiros é “mais um caso de incompetência e arrogância, o que depois dificulta muito a vida e encontrar soluções para o nosso país”.

Cristas considera “muito preocupante a falta de entendimento entre as duas partes” e frisa que “a falta de diálogo mostra a incompetência do Governo a gerir um diálogo que seja fluído e que vá ao encontro das respostas que são necessárias”.


O PSD acusa o ministro da Administração Interna de “arrogância política na forma como destratou” os bombeiros.

O deputado Duarte Marques disse que o partido vê "com grande preocupação" o que está a passar-se com a liga dos bombeiros, que deixou de participar na estrutura da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), em rutura com o executivo contra os diplomas aprovados pelo sobre as estruturas de comando.

Para Duarte Marques, o ministro, "ao longo dos últimos meses, tem destratado e desrespeitado os bombeiros e desrespeitado o Parlamento", dado que a reforma da Proteção Civil está a ser "escondida".
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