Calamidade vivida revela "povo incapaz de se governar", diz o bispo de Viseu

por Lusa

Viseu, 18 out (Lusa) -- O bispo de Viseu, Ilídio Leandro, considerou hoje que o que se tem passado em Portugal com os incêndios florestais revela "um povo incapaz de se governar e de preservar a sua história e as suas ricas tradições".

Numa nota intitulada "Sejamos dignos da criação", Ilídio Leandro refere que o povo português é "envelhecido, sem capacidade de renovação", e que "se autodestrói, deixando queimar a natureza e destruir os bens da criação".

O prelado critica que se interiorizem "os sentimentos da `inevitabilidade da desgraça`, da `pouca sorte` e do `azar`", seja na época dos fogos, das cheias, das secas ou dos acidentes nas estradas.

"Agora, parece que aceitamos como inevitável que, com as florestas, ardam as aldeias, as casas... E até parece inevitável e natural a morte de dezenas e dezenas de pessoas", lamenta.

Na opinião de Ilídio Leandro, "importa acordar e recuperar as capacidades de superação dos limites que as sereias, mal-intencionadas", querem impor aos "sonhos de esperança e de libertação para a construção de um futuro melhor" dos portugueses.

"Precisamos de receber, com alegria e gratidão, de usar, com parcimónia e respeito, e de transmitir, melhorando e enriquecendo, os bens que recebemos" da natureza, acrescenta.

Neste âmbito, o bispo de Viseu considera que, tal como refere o hino de Portugal, os portugueses precisam de "lutar `contra todos os canhões` e, na esperança, confiante, solidária e ativa, `marchar, marchar`".

Ilídio Leandro mostra-se solidário com "todas as famílias e pessoas que sofrem, neste momento, as consequências dos terríveis acidentes provocados pelo fogo" e diz estar "unido, em oração e em saudade, a todas as pessoas que faleceram".

"Para todas as famílias e pessoas que sofrem quaisquer perdas, a minha unidade próxima, na confiança ativa e na esperança reconciliadora, convidando a que todos sejamos solidários, generosos e ativos nas necessárias e urgentes soluções", frisa.

Para todos aqueles que, ativa ou passivamente, são responsáveis por estas calamidades e as suas consequências, espera "a necessária, justa, positiva e proporcional compensação".

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 41 mortos e cerca de 70 feridos (mais de uma dezena dos quais graves), além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.

O Governo decretou três dias de luto nacional, até quinta-feira.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos.

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