Pedrógão Grande, Leiria, 27 jun (Lusa) - O presidente da Câmara de Pedrógão Grande disse hoje à agência Lusa que acredita no SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), mas defendeu que os sistemas de comunicações devem ser entregues às Forças Armadas.
"Já disse, por várias vezes, que estes sistemas devem ser entregues ao Exército, à Marinha, às Forças Armadas. Continuam a apostar nas empresas privadas, eles lá sabem porquê".
O autarca disse ainda que não se pode continuar a andar constantemente com acusações.
"Cortar cabeças não vale a pena. Isto foi uma tragédia, uma coisa inédita. O mais importante é resolver agora os problemas das pessoas. É o que a Câmara está a fazer com a ajuda da Santa Casa da Misericórdia, dos fuzileiros e de outras instituições que estão no terreno", disse.
"Quanto à situação do SIRESP [falhas], aquilo ultrapassa-me. Só os técnicos de comunicações podem avaliar entre a capacidade da antena e o número de pessoas que àquela hora queriam comunicar. Ora, o que é que eu posso dizer, eu acredito no SIRESP", afirmou.
O autarca recordou que a situação foi "muito complicada" e adiantou que a "própria atmosfera" impedia o bom funcionamento das comunicações e das diferentes antenas.
"Pode ter havido uma sobrecarga e não haver espaço para que as chamadas das pessoas entrassem. Os pedidos de socorro eram muitos. Eu próprio estive no posto de comando e aquilo era uma aflição nas comunicações. Eles, por vezes, a quererem comunicar e a não conseguirem (...). Isto é uma situação excecional. Acho que não há culpados nisto", sustentou.
A `fita do tempo` das comunicações registadas pela Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) revela falhas "quase por completo" nas primeiras horas do incêndio em Pedrógão Grande, "impedindo a ajuda às populações".
A `fita do tempo` "resulta do Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) da ANPC, uma espécie de `caixa negra` que permite registar a sequência ordenada dos principais acontecimentos e decisões operacionais.
Os registos foram disponibilizados ao primeiro-ministro no dia 23, um dia depois de a ANPC ter enviado a António Costa as primeiras explicações sobre as falhas nos incêndios.
"No primeiro documento era já deixado de forma clara que a rede SIRESP tinha falhado durante quatro dias".
O primeiro registo da `fita do tempo` é das 19:45 de sábado, hora em que começaram os problemas na rede de comunicações.
Segundo esta, foi nestas primeiras horas que existiram vários pedidos de ajuda de pessoas cercadas pelo fogo, a que os comandos operacionais não conseguiram dar resposta imediata, devido às falhas nas comunicações.
Na primeira comunicação registada, a Proteção Civil informa que o 112 comunicou existirem "três vítimas no interior de uma habitação", que eram da zona do Porto e que estavam numa habitação devoluta, cercadas pelo incêndio na localidade de Casalinho e que diziam não conseguir sair sozinhas, lê-se no documento.
Ao longo dos dias seguintes seguir-se-iam muitas mais falhas.
As falhas do SIRESP foram admitidas por dois comandantes operacionais da ANPC nos primeiros balanços dos incêndios.
Na segunda-feira à noite, a ministra da Administração Interna exigiu um estudo independente ao funcionamento do SIRESP e uma auditoria pela Inspeção-Geral da Administração Interna à Secretaria-Geral Administração Interna.