CNE antevê retrocesso nos resultados do sistema educativo português

por Lusa

A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) afirmou hoje que a pandemia de covid-19 e o consequente encerramento das escolas, para travar o contágio, irá provavelmente refletir-se num retrocesso para o sistema educativo português.

"Provavelmente nada será em 2020 e 2021 como foi em 2019, um ano particularmente positivo para o sistema educativo português", considerou Maria Emília Brederode Santos, durante uma audição no parlamento, por via digital, perante a Comissão de Educação.

A presidente do CNE referiu que Portugal estava no "bom caminho", aproximando-se das metas da União Europeia em vários indicadores.

"Agora, provavelmente atravessaremos um retrocesso bastante infeliz", lamentou.

A frequência do ensino pré-escolar, as taxas de escolarização nos vários níveis, a redução das taxas de repetência, a redução do abandono escolar precoce e o aumento da frequência do ensino superior foram algumas dos progressos que apontou.

A presidente do CNE referiu, por outro lado, que o país apresenta ainda um "insatisfatório nível de escolaridade" dos adultos: "É uma área em que temos de investir".

Maria Emília Brederode Santos defendeu também um programa nacional de valorização da profissão de professor, face ao envelhecimento da classe e à falta de professores que já se sente em várias disciplinas, associada a "uma imagem de desvalorização" da profissão.

A presidente do CNE deixou algumas propostas de medidas para esse plano nacional, como criação de bolsas para estudantes com melhores notas que pretendam frequentar as escolas superiores de educação e as vias educacionais do universitário.

A responsável pelo CNE, órgão de consulta do Ministério da Educação, alertou ainda que com a pandemia de covid-19 se verificou "um acentuar das necessidades" de pessoal não docente nas escolas.

Auxiliares educativos com formação, terapeutas, mediadores, assistentes sociais e técnicos de informática tornaram-se nesta fase "muito mais necessários", advogou.

No domínio das tecnologias, a presidente do CNE assinalou que apesar de o equipamento existente nas escolas estar envelhecido, o estudo sobre o Estado da Educação (2019) permitiu concluir que a quantidade de equipamentos não era muito inferior a outros países da UE. No entanto, a utilização nas aprendizagens era inferior à média. "Isso, eu acho muito negativo", disse.

Em resposta ao deputados, a professora revelou que o CNE está a fazer um duplo estudo: um histórico do que se passou durante a pandemia e um estudo baseado num inquérito realizado junto de diretores de escolas e professores no final do ano passado.

Os resultados preliminares indicam, segundo avançou, uma percentagem de 70% a 75% de alunos sem equipamento ou com equipamento desadequado, valor que nos professores será de 25%.

"Mas sem rede, sem conectividade, já seriam cerca de 75% dos alunos e 30% dos professores", acrescentou.

O Plano Digital, defendeu, deverá abranger outras dimensões que não apenas os computadores, por forma a incluir a rede, o apoio técnico e a formação dos professores e dos alunos.

"Não é só uma formação tecnológica, mas tem de ser uma verdadeira formação mediática, com sentido crítico e com responsabilidade", sustentou.

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