Confrontos em Lisboa e Porto marcam greve geral

por RTP, com Lusa
No Porto, os protestos concentraram-se frente à Reitoria da Universidade do Porto, onde se encontrava Pedro Passos Coelho. Luís Efigénio, Lusa

A greve geral decretada pela CGTP ficou ontem marcada por confrontos entre a polícia e manifestantes nas duas maiores cidades do país. Em Lisboa, os incidentes decorridos junto ao Largo do Chiado provocaram vários feridos ligeiros. Também no Porto se registaram confrontos semelhantes na Praça Carlos Alberto, pouco tempo depois de o primeiro-ministro ter sido recebido por centenas de manifestantes em protesto na Reitoria da Universidade da cidade.

A polícia e elementos da manifestação promovida pela plataforma 15 de Outubro envolveram-se na tarde de quinta-feira em confrontos junto ao Largo do Chiado, em Lisboa. O incidente provocou feridos ligeiros, incluindo um fotojornalista da agência Lusa, que se encontrava no local a fazer a cobertura do acontecimento e que necessitou de assistência hospitalar.

Segundo testemunhas no local, os confrontos começaram quando os manifestantes arremessaram objetos e pedras de calçada contra elementos da PSP junto à esplanada do café Brasileira, no Chiado, onde foram derrubadas cadeiras, mesas, chapéus-de-sol e os clientes que se ali se encontravam tiveram de fugir para não serem atingidos pelos objetos atirados. Consequentemente, a PSP reforçou a presença na manifestação com elementos das Equipas de Intervenção Rápida (EIR) e do Corpo de Intervenção.

Entretanto, a porta-voz do comando metropolitano da PSP de Lisboa (COMETLIS) confirmou a existência de um detido e pelo menos três feridos (um manifestante, um polícia e o jornalista da Lusa) na sequência dos confrontos. Segundo a subcomissária Carla Duarte, o detido é um manifestante que lançou um petardo e agrediu os polícias, tendo sido constituído arguido. A porta-voz do COMETLIS disse que houve necessidade de repor a ordem porque a situação "atingiu um nível elevado", adiantando que foi difícil acalmar os ânimos e repor a ordem. A subcomissária não confirmou a ocorrência de agressões a pessoas que não integravam a manifestação.

Contudo, a Direção de Informação da Lusa anunciou um protesto "com a maior veemência" contra "a agressão", por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), ao fotógrafo da agência José Sena Goulão.

Anteriormente, o grupo de cerca de 150 manifestantes já tinha provocado alguns distúrbios durante o desfile pela Av. Almirante Reis até ao Rossio, atirando ovos às instalações das instituições bancárias por onde passava e mesmo às pessoas que levantavam dinheiro nas caixas de multibanco. A polícia chegou a ser obrigada a intervir junto à sede do Banco de Portugal para acalmar os ânimos.

No Porto, vários indivíduos foram agredidos pela polícia na Praça Carlos Alberto, depois de um manifestante ter sido detido pela PSP. O incidente decorreu momentos depois de o primeiro-ministro ter sido recebido por centenas de manifestantes em protesto na Reitoria da Universidade, localizada próximo daquela praça.

Segundo o que a Lusa testemunhou, os agentes da polícia desferiram várias bastonadas nas pessoas que se encontravam nas imediações da viatura policial onde seguia o detido. De acordo com uma fonte do comando da PSP do Porto, houve uma pequena escaramuça junto à carrinha, mas sem registo de agressões.

Contudo, várias testemunhas responsabilizaram os "agentes à paisana" da polícia pela situação. Em declarações à Lusa, Carla Silva, empregada de limpeza na Câmara de Matosinhos, disse que os "jovens estavam a protestar e a polícia decidiu virar-se à 'porrada'”. “Quando eu vinha a fugir com o meu filho, um polícia à civil deu-lhe um pontapé. Conclusão: gerou-se uma confusão outra vez e ainda prenderam um jovem", acrescentou.

Pedro Passos Coelho foi hoje participar no encerramento do centenário da Universidade do Porto, tendo entrado diretamente nas instalações da Reitoria, protegido por um perímetro de segurança e um forte contingente policial, fugindo ao contacto direito com a população que protestava junto à entrada.
CGTP pede reunião com primeiro-ministro
O secretário-geral da CGTP vai pedir uma reunião de urgência ao primeiro-ministro com base na “grande" adesão à greve geral, da qual recusou avançar quaisquer números, para pedir a "retirada de propostas de revisão laboral da administração pública e setor privado e políticas económicas que combatam a precariedade e o desemprego".

“De acordo com os dados recolhidos até agora, fizemos uma grande greve geral, com um envolvimento dos trabalhadores semelhante ao que se registou às feitas recentemente", disse ainda Arménio Carlos, numa conferência de imprensa ao final do dia em Lisboa.

No encerramento da manifestação da CGTP frente à Assembleia da República, o secretário-geral da Intersindical já se tinha congratulado com as “grandes adesões” à greve geral desta quinta-feira e tinha anunciado novas formas de luta para os próximos tempos, incluindo uma greve parcial de duas horas dos trabalhadores do poder local para 12 de abril e protestos frente ao Parlamento na próxima semana contra o novo código de trabalho (discutido e votado na generalidade na quarta-feira).

Durante o discurso, Arménio Carlos criticou o facto de Portugal estar no terceiro lugar dos países com maior precariedade no emprego, situação de "23 por cento" do total de trabalhadores, atrás apenas da Polónia e da Espanha. "Em 2003, a precariedade era de 9 por cento, e Portugal estava abaixo da média europeia", acrescentou.

Também o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou em comunicado que a paralisação teve "um grande impacto" e constituiu "uma poderosa afirmação de descontentamento e protesto", destacando a forte adesão" na área industrial", no "sector dos correios", bem como "uma elevada adesão na administração pública, na administração local, na recolha de lixo, transportes urbanos municipais e sectores operários e auxiliares, na administração central, com centenas de escolas dos vários níveis de ensino e jardins-de-infância encerrados".

Já o primeiro-ministro afirmou apenas que todas as greves e manifestações têm que ser respeitadas, sem fazer "nenhuma consideração particular" sobre a greve geral de hoje, preferindo reconhecer o "esforço grande que o país de um modo geral tem vindo a fazer".

Antes, o secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, já tinha remetido para o final do mês um balanço da greve geral nos serviços do Estado, alegando não ter um registo de dados que permita ao Governo avançar com qualquer estimativa no dia de hoje.

A este propósito, Hélder Rosalino recordou ainda que a há cerca de uma semana foi produzido um despacho que determinava que "o Governo não iria proceder ao registo no próprio dia da greve da adesão dos trabalhadores que exercem funções públicas".
Greve paralisa transportes e deixa lixo por recolher
Nos transportes, todos os trabalhadores dos portos de Lisboa, da Transtejo e da Soflusa aderiram, segundo a CGTP, e no Metro o valor era de 99,9 por cento; na manutenção da TAP era de 65 por cento e na Carris 50 por cento. Já na CP, os efeitos na greve deverão fazer-se sentir ainda durante a manhã de sexta-feira. Nota para o facto de os trabalhadores STCP terem decidido hoje, em plenário, estender o pré-aviso de greve a todos os feriados até ao final do ano.

Na recolha do lixo, a central sindical apontava para uma adesão total nas câmaras municipais de Loures, da Amadora e de Vila Franca de Xira, enquanto em Sintra os números variavam entre 80 a 100 por cento e no Sobral de Monte Agraço eram de 97 por cento.

Nos hospitais, a adesão dos auxiliares terá sido total nos hospitais D. Estefânia, S. José e de S. Francisco Xavier, enquanto no Hospital de Santa Maria e no Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM os números são de 90 e 80 por cento, respetivamente.

De acordo com a CGTP, seis escolas fecharam. Há também relatos de repartições de serviços públicos encerradas e centros de saúde a meio gás. Na justiça, os funcionários judiciais levaram ao encerramento de vários tribunais e ao adiamento de várias audiências, nomeadamente a do caso 'Face Oculta', que estava prevista para hoje no tribunal de Aveiro.

Esta foi a oitava greve geral convocada pela CGTP e visou protestar contra o agravamento da legislação laboral, o aumento do desemprego, o aumento do empobrecimento e as sucessivas medidas de austeridade.

Desta vez, a UGT não se juntou ao protesto, ao contrário do que aconteceu na greve geral de 24 de novembro. A central sindical liderada por João Proença assinou o acordo para a Competitividade, o Crescimento e o Emprego que está na origem da revisão da legislação laboral.
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