Conhecer o mar de Cascais, Sintra e Mafra junta 50 investigadores a partir de hoje

por Lusa

A caracterização da vida e dos habitats no mar de Cascais, Sintra e Mafra junta a partir de hoje cinquenta investigadores, que ao longo de 12 dias vão explorar uma zona ainda "mal conhecida".

"É uma zona próximo de grandes centros urbanos, mas mal conhecida. É uma zona que conhecemos de terra mas não o que acontece no mar", disse à agência Lusa o biólogo e investigador Henrique Cabral, consultor científico e que colidera a expedição.

Com o apoio dos três municípios, da Fundação Oceano Azul e do Governo de Portugal, a expedição terá como base o navio "Santa Maria Manuela", mas compreende muito mais, em termos de metodologias a usar para fazer "um grande levantamento da flora e da fauna marinhas", como explicou o responsável à Lusa.

Ao longo dos 12 dias, equipas de mergulhadores, através de uma metodologia científica e padronizada, vão registar os organismos marinhos, numa zona não muito profunda. São, disse Henrique Cabral, todos biólogos e especialistas em diversas áreas.

Um grupo de mergulhadores vai identificar também outros organismos e espécies dominantes de algas, porque tal tem influência nos habitats. Todos eles a trabalhar até 20 metros de profundidade na zona costeira, porque para zonas mais profundas será usado um veículo operado remotamente (ROV - Remotely Operated Vehicle).

Com uma câmara de filmar, o ROV vai permitir fazer um "varrimento vídeo em áreas mais vastas" e um inventário das zonas mais profundas, sendo as imagens depois "dissecadas" em computador.

"Estamos a pensar fazer trabalho na ´montanha de Camões´ uma zona a 12 milhas a oeste do Cabo da Roca, um monte submarino com alguma diversidade biológica", explicou à Lusa o responsável.

E depois, porque quer o ROV quer os mergulhadores afastam os peixes, acrescentou Henrique Cabral que vai ser usada outra técnica que consiste numa câmara de filmar com isco (BRUV - Baited Remote Underwater Video), para identificar espécies, quer em câmaras a flutuar à superfície quer em câmaras no fundo do mar.

Henrique Cabral espera "encontrar-se" com tubarões ou com golfinhos, mas também com crustáceos e moluscos, nas zonas mais profundas.

Metodologias para um conhecimento o mais amplo possível, que será complementado com outros estudos por avistamento, de aves por exemplo. Segundo o responsável através de pequenas embarcações que saem do navio "Santa Maria Manuela".

E a zona da linha de costa também está incluída no trabalho, seja por terra, na maré baixa, seja através de drones, para zonas de menor acessibilidade e que permitem fazer fotografias e vídeos para determinar, por exemplo, a percentagem de cobertura de algas ou de mexilhões.

A chamada "Expedição Oceano Azul Cascais/Mafra/Sintra" justifica-se, dizem os organizadores, pela necessidade de conhecer e proteger o património natural do país, "respondendo às políticas nacionais, europeias e internacionais de proteção e gestão sustentável do oceano".

Estão envolvidas instituições científicas como o MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, o CCMAR - Centro de Ciências do Mar, o CESAM - Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, a SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, o IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera e o IH - Instituto Hidrográfico.

A iniciativa é liderada por Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, e por Henrique Cabral, biólogo e investigador no "Institut National de Recherche pour l`Agriculture, l`Alimentation et l`Environnement (INRAE)", em França.

Henrique Cabral explicou à Lusa que o IPMA e o IH vão também fazer outras investigações ao longo dos 12 dias, e que questões como lixo marinho ou as pressões das atividades humanas também vão ser investigações tidas em conta.

Com os dados e imagens recolhidos, será produzido um relatório científico, e será também feito um documentário.

Nas palavras de Henrique Cabral a maior parte da investigação será feita até 30 quilómetros da costa. E os investigadores irão estar atentos ao facto de se tratar de uma zona próxima de canhões submarinos (desfiladeiros) de Lisboa e da Nazaré, e também uma zona de transição de espécies, entre águas mais quentes do norte de África e águas mais frias, e a possibilidade de as alterações climáticas poderem estar a trazer mudanças na fauna e flora.

E vão ainda abordar a questão das espécies não indígenas, trazidas por exemplo em cascos de navios ou em águas de balastro.

Haja um conjunto de vontades que se unam e a expedição pode ser replicada, porque segundo Henrique Cabral há muitas zonas da costa portuguesa que precisam de ser estudadas.

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