Diretores de escolas defendem revisão e debate sobre existência do 2.º ciclo do básico

por Lusa
RTP

O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, defendeu hoje tal como a presidente do Conselho Nacional de Educação, a revisão e o debate sobre a existência do 2.º ciclo do ensino básico.

Em declarações à agência Lusa a propósito da divulgação do relatório do Estado da Educação no qual a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Emília Brederode Santos, põe em causa a existência do 2.º ciclo, Filinto Lima defendeu que devem existir dois ciclos de ensino, um do 1.º ao 6.º ano e outro do 7.º ao 12.º.

No relatório, a presidente do CNE pôs em causa a existência do 2.º ciclo, lembrando que se trata de uma "originalidade portuguesa", que "não é uma boa prática" tendo em conta o elevado número de reprovações.

"Na associação já falámos e ponderámos sobre a necessidade de existir um ciclo que é um ciclo perdido. O que propúnhamos, pelo menos para debate, é que existissem dois ciclos de ensino: um que fosse do 1.º ao 6.º e o outro mais avançado do 7.º ao 12.º, até porque também o ciclo do secundário (10.º ao 12.º) é um ciclo perdido, que não tem identidade própria", disse o presidente da ANDAEP.

No entendimento de Filinto Lima, o ciclo do secundário "só serve para o atual modelo de acesso ao ensino superior.

"Ou seja, um aluno quando entra no ensino secundário sabe que no 12.º vai ter duas horas de exame que muitas vezes define a vida de um aluno. Além de concordar com a presidente do CNE, consideramos também que neste momento deve haver outra discussão que é o atual modelo de acesso ao ensino superior que não serve à nossa educação nem aos nossos alunos", sublinhou.

De acordo com o presidente da ANDAEP, antes de revisto deve ser alvo de amplo debate nacional.

"Esta mudança a ser concretizada será uma mudança estrutural. Não deve ser uma mudança deste Governo ou do próximo, mas de todos nós. Eu acho que em Portugal, na educação, muitas vezes erramos porque implementamos políticas que são do governo que na altura está no poder e isso é errado. A politica na educação deve ser uma politica de amplos consensos (...). É preciso que percebam que a educação é de todos e não de nenhum governo em particular", frisou.

Filinto Lima chamou também a atenção para a necessidade de haver um pacto de educação que tenha a ver com os currículos.

"A presidente do CNE propõe no relatório uma espécie de comissão de acompanhamento que assuma o currículo escolar, que proponha sempre que necessário ajustes. O currículo muda de Governo para Governo e, muitas vezes, o mesmo Ministério da Educação muda-o mais que uma vez, o que gera confusão para as escolas e professores", disse.

No relatório sobre o Estado da Educação é também referido que as taxas de retenção e desistência têm vindo a diminuir nos últimos anos, tendo atingido no ano letivo de 2016/2017 o valor mais baixo da última década em todos os três ciclos de ensino.

Sobre este assunto, Filinto Lima salienta que Portugal melhorou bastante em relação à diminuição e abandono escolar.

"Melhorámos bastante, mas ainda nos envergonha os números relativos à chamada educação de adultos. Temos ainda dois milhões e 500 mil pessoas que só têm o 4.º ano e ainda pouco menos de 5% que são analfabetos. As nossas energias devem ser direcionadas para os que não tiveram hipótese de ir mais além", sublinhou.

Quanto à referência que é feita no relatório ao material informático obsoleto nas escolas, o presidente da ANDAEP defendeu a necessidade de um novo programa tecnológico educativo como o que existiu há dez anos.

"Precisamos de um novo programa tecnológico que dote as escolas de computadores atualizados. Aquilo que temos não serve e a par disto é preciso não esquecer que a rede de internet das escolas não é fiável", concluiu.

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