Especialista defende que se oiçam propostas dos jovens para dinamizar as terras

por Lusa

Lisboa, 09 dez (Lusa) -- A especialista em políticas do território Stella Bettencourt da Câmara defende que, para combater o despovoamento do interior, será preciso apostar em atividades como o turismo, deslocalizar serviços e ouvir as propostas das pessoas, principalmente jovens, para as suas terras.

Stella Bettencourt da Câmara, doutorada em Gerontologia Social e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, destacou que a situação não é de agora, "já vem de há muito tempo", fruto da emigração do século passado, com a saída de pessoas, sobretudo jovens, para as grandes cidades e também para outros países.

"Porque é que as pessoas não estão lá, porque é que as pessoas não se fixam? Em parte, porque também não há infraestruturas e serviços; por outro lado, para que haja infraestruturas e serviços, nomeadamente emprego para os mais jovens, é preciso haver pessoas. Não há pessoas, não há o resto; não há o resto, não há pessoas", afirmou à Lusa.

A docente apresenta "um cenário muito pessimista" a curto prazo.

"A probabilidade é que alguns dos lugares em Portugal, por falecimento ou por saída desses números muito reduzidos de população, vão morrer. E o que é preciso é que nós analisemos uma política de população estratégica, repensarmos o que queremos deste país relativamente às pessoas", considerou.

Para Stella Bettencourt da Câmara, as propostas de aumentar a natalidade não chegam "se não se criarem depois as infraestruturas das creches, das escolas e do próprio emprego".

As soluções podem passar "eventualmente por uma aposta no turismo" e criação de empregos.

"Tem de ser um turismo sustentável, no sentido de que não seja só agora porque está na moda. [...] O que estava aqui a propor e que até já existe, não estou a ser original, começa a ser um turismo mais ligado à terra, ligado a estas comunidades pequenas", sugeriu.

A curto prazo, seria bom "descentralizar serviços para as pessoas mais velhas", de uma forma que permita "reaproveitar algum tipo de equipamentos, nomeadamente casas", o que seria até "uma maneira de dinamizar a economia, porque esta população também precisa de pessoas mais jovens em termos de trabalho".

Por fim, é necessário também tentar perceber porque é que os mais jovens saem e porque é que tendencialmente não regressam, mesmo quando saem para frequentar universidades em centros urbanos maiores.

"Normalmente, nós tendemos a criar políticas e medidas para as pessoas e o que vai ter de ser é que nós temos que criar políticas e medidas com as pessoas. Mais do que tudo, são elas que podem ajudar a dizer o que querem. Nesse sentido era interessante que nós ouvíssemos os jovens e com eles verificar o que se pode fazer mais, porque eles até sabem. E eles é que de facto vão ser a geração que irá trabalhar, eles é que de alguma forma vão tornar este país diferente", defendeu.

A professora afirmou que, quando aborda estas questões com alunos, "alguns até querem regressar às terras de onde vêm e começar outro tipo de atividades, muitas vezes dissonantes das licenciaturas que estão a tirar".

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