Falhou informação obrigatória à população sobre ameaças à qualidade do ar

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Incêndios contribuem para aumento dos níveis de ozono e de partículas suspensas na atmosfera. Rafael Marchante - Reuters

A associação ambientalista ZERO denuncia falhas na informação obrigatória à população sobre concentrações excessivas de ozono, prejudiciais à saúde. O valor limite diário de partículas suspensas na atmosfera foi igualmente ultrapassado entre domingo e terça-feira em alguns pontos do país, coincidindo com os incêndios florestais em Pedrógão Grande e Góis. A associação exige por isso uma maior articulação entre entidades oficiais para uma melhor resposta às alterações climáticas potenciadoras de incêndios.

“Achamos que a legislação é para ser cumprida e a bem da saúde pública”, afirmou na RTP Francisco Ferreira, presidente da Associação ambientalista ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável.

“Não esteve presente em qualquer meio de comunicação social, desde sexta-feira até esta quarta-feira, nenhum aviso para as pessoas tomarem precauções em relação ao que se estava a passar em termos de qualidade do ar, principalmente em relação às elevadas concentrações de ozono em determinadas zonas”, acusa Francisco Ferreira, alertando que estes poluentes têm uma “influência direta na nossa qualidade de vida, na nossa saúde e, no limite, na própria mortalidade”.

O ozono é um poluente que, formado à superfície terrestre, pode ser prejudicial à saúde. É formado a partir de outros poluentes, entre eles os óxidos de azoto, emitidos pelo tráfego rodoviário e pela combustão, incluindo os incêndios.

A associação ambientalista constatou que devido aos poluentes presentes na atmosfera e ao elevado calor e radiação solar, em particular desde 16 de junho, se verificaram elevadas concentrações de ozono em diversas estações de monitorização da qualidade do ar. Houve 18 ultrapassagens dos limiares de informação de ozono desde 16 de junho.
 


Entre sexta-feira passada e esta terça-feira, o limiar horário de informação ao público sobre a concentração de ozono na atmosfera foi ultrapassado no Norte Interior, em Lisboa, no Centro Litoral e entre as regiões do Douro e Minho.

O número de horas acima do limiar de informação sobre os níveis de ozono foi maior em Lisboa - 11 horas no total - no sábado, dia em que a temperatura máxima alcançou no distrito os 40ºC.Exposição a níveis elevados de ozono pode manifestar-se em sintomas como tosse, dores de cabeça, dores no peito, falta de ar e irritações.

A ZERO alerta que “as pessoas não estão a ser avisadas nem da previsão, nem sobre o atingir dos elevados níveis de ozono, como seria de esperar”.

A lei assim o obriga, até porque o ozono pode afetar os olhos e as vias respiratórias, provocar o agravamento de patologias respiratórias já existentes e reduzir a resistência a infeções respiratória. O risco é particularmente significativo para crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios.

Compete às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional alertarem a população, através da comunicação social, para os limiares excedidos de concentração de ozono no ar.Fogos agravam valores de partículas
Desde a passada semana que Portugal continental tem vindo a ser afetado por elevadas concentrações de partículas vindas do norte de África. Os incêndios contribuíram, no entanto, para um agravamento muito significativo da qualidade do ar no que toca às partículas suspensas.
As partículas têm efeitos na saúde humana no curto e longo prazo, causando ou agravando problemas cardiorrespiratórios ou podendo mesmo contribuir para um agravamento da mortalidade.
O valor-limite diário de partículas suspensas na atmosfera, com efeitos na saúde, foi ultrapassado na Região Centro entre domingo e terça-feira, coincidindo com os incêndios florestais que deflagraram em Pedrógão Grande e Góis.

A informação consta num comunicado da associação ambientalista ZERO, que precisa que, no domingo, um dia depois do começo dos fogos florestais, a quantidade máxima admissível por dia de partículas suspensas no ar foi superada em cinco estações de monitorização do Centro Interior e Centro Litoral, zonas próximas aos incêndios.



Na segunda-feira, o valor-limite foi excedido em dez locais do Centro Interior, Centro Litoral e Coimbra, enquanto na terça-feira foi ultrapassado em sete estações, mas apenas no Centro Litoral.

Nestes casos, de elevadas concentrações de partículas suspensas no ar, é fundamental o uso de máscara como proteção respiratória.
Avisos e alterações climáticas
Perante os perigos para a saúde pública, a Associação ZERO alerta que os avisos “têm mesmo de chegar às populações”. Para isso, quer uma melhor articulação entre Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), ministérios da Saúde e Ambiente.

Para a associação, apesar de a informação poder ser consultada no site da Agência Portuguesa do Ambiente, é obrigação das CCDR avisarem as autoridades e a população através da comunicação social da ultrapassagem dos limiares.

Como a ultrapassagem dos limites é, por vezes, de curta duração (entre uma hora e algumas horas), a associação defende que deveria existir um sistema que obrigue determinados órgãos chave da comunicação social a transmitir esses avisos, tal como já acontece noutros países. ZERO quer que o projeto ClimAdaPT.Local, que envolveu 26 concelhos em Portugal, tenha uma expressão no terreno tão rapidamente quanto possível.

Considerando que Portugal “está já a ser fortemente afetado pelas consequências do aquecimento global” com fenómenos extremos como as ondas de calor, “particularmente potenciadores de grandes incêndios” e de uma maior mortalidade, a ZERO conclui que as autarquias, proteção civil e restantes entidades deverão adaptar-se e aplicar estratégias para enfrentar as alterações climáticas.

Independentemente de se confirmar ou não que a origem do incêndio de Pedrógão Grande esteve na trovoada, a associação ZERO cita estudos que mostram que o aumento em um grau Celsius da temperatura no contexto do aquecimento global é responsável por um aumento de 12 por cento de descargas elétricas, aumentando assim o risco de incêndios florestais.

Da mesma forma, tal aumento de temperatura gera ainda correntes de downstream (ventos verticais com forte intensidade que se propagam de forma radial quando chegam ao solo). Este fenómeno tem sido apontado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera como o potenciador da rápida propagação das chamas em Pedrógão Grande.
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