Governo assegura que terá meios aéreos apesar dos problemas com Kamov e concurso

por RTP
Segundo o relatório preliminar a que o jornal <i>Público</i> teve acesso, o júri decidiu excluir as propostas apresentadas pelas empresas HTA, Helicópteros, Babcock, Helibravo e Heliportugal José Manuel Ribeiro - Reuters

A Proteção Civil fechou as instalações onde se encontram os helicópteros Kamov, em Ponte de Sor, e expulsou os técnicos russos que estavam a trabalhar no arranjo de três helicópteros. A ANPC acusa uma subcontratada da Everjets de movimentar material da frota sem a devida autorização. Aos problemas com os Kamov junta-se a dificuldade do Executivo em contratar meios aéreos para o próximo verão: o concurso voltou a falhar. Apesar das dificuldades, a tutela assegura que garantirá todos os meios aéreos necessários.

São dois problemas diferentes mas que lançam o mesmo alerta da falta de meios aéreos perante o aproximar da época de incêndios: os helicópteros Kamov vão continuar inoperacionais e o concurso para contratação dos meios aéreos para o próximo verão voltou a falhar.

Em causa está a contratação de 28 helicópteros ligeiros de combate a incêndio. O primeiro concurso já tinha falhado e o mesmo aconteceu com o segundo, uma vez que todas as propostas apresentadas apresentaram valores acima daqueles que o Governo está disposto a pagar.

Segundo o relatório preliminar a que o jornal Público teve acesso, o júri decidiu excluir as propostas apresentadas pelas empresas HTA, Helicópteros, Babcock, Helibravo e Heliportugal.

Apesar de ter falhado a contratação destes 28 helicópteros, o Executivo conseguiu contratar os 12 aviões que pretendia: dois de coordenação, dois anfíbios pesados e oito anfíbios médios. Estes meios juntam-se aos dez helicópteros contratualizados em fevereiro.

Ou seja, ao todo, o Governo tem atualmente 22 meios aéreos contratados do total de 50 pretendidos para o dispositivo. As contas do Público indicam que já estão adjudicados 41 dos 60 milhões de euros que o Executivo prevê gastar. Ou seja, restam 19 milhões de euros para conseguir os 28 meios em falta. As propostas apresentadas pelas empresas no concurso que terminou sem sucesso ascendiam aos 25,5 milhões de euros.

Com o aproximar do verão, resta ao Ministério das Administração Interna avançar com o ajuste direto o quanto antes. A época de incêndios e a procura de meios aéreos por parte de outros países tendem a fazer aumentar o preço.

Apesar dos problemas, o Governo garante que vai contratar todos os meios necessários para o combate ao fogo. Em nota escrita enviada à Antena 1, o Ministério das Administração Interna sublinha ainda que não há decisão definitiva do júri sobre o concurso que terminou esta semana.
Problemas com Kamov
Ao problema com a contratação de meios aéreos juntam-se as dificuldades com os helicópteros Kamov. A rutura entre a Everjets, empresa responsável pelos helicópteros do Estado, e a Autoridade Nacional da Proteção Civil tornou-se evidente depois de a ANPC ter mandado fechar o local onde é realizada a manutenção dos Kamov.

Na quarta-feira, a Autoridade Nacional de Proteção Civil procedeu ao encerramento das instalações localizadas no aeródromo de Ponte de Sor, em Portalegre, onde é feita a reparação destes helicópteros. Foram ainda expulsos os técnicos russos que estavam a trabalhar nos arranjos destes helicópteros.

Em comunicado enviado às redações, a ANPC confirma o encerramento e explica que se deve à movimentação de material dos helicópteros sem a devida identificação e autorização.

A Proteção Civil explica ter “constatado a movimentação de material da mencionada frota, por parte da Heliavionics (subcontratada da Everjets, S.A.), sem ter sido efetuada a identificação do referido material, nem ter sido solicitada a necessária autorização, tendo tal facto sido logo comunicado à Everjets, S.A.”.

A ANPC garante que o “encerramento do hangar foi a única medida que, no imediato e face à omissão de qualquer atuação e/ou esclarecimento por parte dos técnicos da Everjets presentes no local, permitiu acautelar os bens da ANPC e o interesse público subjacente”.

O presidente da Everjets contesta a versão da Proteção Civil. Afirma que esta foi uma ação surpreendente apesar de admitir que alguns procedimentos burocráticos possam não ter sido feitos.

A empresa gestora da frota de helicópteros do Estado alerta que esta ação da Proteção Civil faz com que a prontidão destes helicópteros fique "comprometida", uma vez que os aparelhos estavam a ser reparados para operarem no início da campanha de combate aos fogos.

Apesar da Everjets associar a decisão da Proteção Civil à impossibilidade de os Kamov serem usados na época de incêndios, o jornal Público afirma que o problema já é antigo. O diário escreve que apenas três dos seis Kamov deveriam estar em condições de voar depois de concluída a manutenção dos dez anos.

Destes três helicópteros, um deveria estar operacional a 26 de fevereiro e um outro a 30 de março. O Público escreve que apenas está concluída a manutenção de um deles que, mesmo assim, não tem autorização da Autoridade Nacional de Aviação Civil para voar. A ANAC obriga a Everjets a substituir uma peça em fim de vida que a empresa não consegue adquirir.

Às dificuldades técnicas juntam-se os problemas com pessoal. O Público revela ter sido informado que a Everjets tem vendido helicópteros ligeiros para fazer face a dificuldades financeiras e que pilotos habilitados para pilotar os Kamov têm saído da empresa. A Everjets confirma saídas mas garante ter a equipa necessária.
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